PARA ATLANTA
Ana
O jato particular é enorme, e Taylor
sinaliza para que eu embarque antes dele. Ele veio me buscar em casa faz menos de
uma hora, e parecia muito bem arrumado num terno estilo Homens de preto. Subo a
escada e percebo que se pode de fato ficar de pé dentro do avião, como se fosse
num avião desses de voos internacionais. No entanto, nenhum avião comercial
onde eu já tenha estado tem uma fração do luxo que tem este aqui. Veludo,
couro, revestimento de mogno, enfeites dourados, monitores de última geração
adornam o interior. Tudo uma coleção de extravagâncias nesse grande e incrível
brinquedinho de um homem rico.
As poltronas estão organizadas em áreas que se assemelham a pequenas salas de
estar, e nesta primeira seção há quatro assentos de couro marfim, maiores do
que um assento de primeira classe. Eles estão ocupados por Sawyer, que fica de
pé sorrindo para me cumprimentar, assim como pelos outros dois membros da
equipe de Christian, seu personal trainer, Lupe, um homem careca e quarentão
que se parece com Daddy Warbucks do filme Annie, e sua chef e nutricionista, Gail,
que reconheço como a mulher que entregou os ingressos pra mim.
– Prazer em conhecê-la, senhorita Steele – diz o treinador Lupe, com uma
espécie de carranca em seu rosto que, de alguma maneira, percebo ser sua
expressão natural.
Aperto sua mão.
– Igualmente, senhor.
– Oh, me chame de treinador, como todo mundo faz.
– Bem... Olá de novo – diz Gail, seu aperto de mão suave e gentil. – Sou Gail
Jones, a chef, nutricionista e
garota de entregas.
Eu rio.
– É muito bom ver você de novo, Gail.
O clima entre eles é realmente muito aberto e verdadeiro, e uma pontada de
emoção gira em torno a mim com a ideia de pertencer a uma equipe de novo. Na
verdade, o que me faria imensamente feliz e satisfeita como profissional é
saber que, a partir de agora, quando Christian Grey entrar em um ringue, ele
vai fluir como uma abelha com a força de uma dúzia de bois, e é maravilhoso
saber que estou trabalhando com outras pessoas especializadas e cujos objetivos
são os mesmos.
– Anastasia. – Taylor sinaliza para a parte de trás do avião, e depois do longo
corredor acarpetado, passando outra seção de outros quatro assentos, uma enorme
tela de televisão e um imenso bar com painéis de madeira, está um banco de couro
que se parece muito com um sofá. E lá, no meio dele, com seu cabelo escuro de
lado enquanto escuta seus fones de ouvido, está Christian Grey. Mais de um
metro e oitenta de testosterona.
Um calor inesperado se atira diretamente em minha corrente sanguínea à primeira
visão dele durante o dia. Ele veste uma camiseta preta que se agarra a seus
músculos e jeans desgastados de cintura baixa, e seu corpo absurdamente trabalhado
usa tudo isso com perfeição glamurosa, enquanto se espalha no espaçoso banco de
couro na outra extremidade.
Meu coração dá um pulo selvagem, porque ele parece tão incrivelmente sexy como
sempre, e eu realmente gostaria de não ter percebido isso de forma tão
automática. Mas acho que não se pode deixar de notar algo tão descaradamente sexual
como ele.
– Ele quer você lá trás – diz Taylor. E não posso deixar de notar que ele soa
quase como se estivesse pedindo desculpas.
Engolindo em seco, deslizo inquieta pelo corredor do avião no momento em que
ele olha pra cima, seus olhos capturando os meus. Acho que os vejo brilhar, mas
não consigo ler nada em sua expressão enquanto ele atentamente observa minha
aproximação.
Seu olhar me deixa tão nervosa que sinto o formigamento, mais uma vez, bem lá
dentro.
Ele é o homem mais forte que já vi em toda a minha vida, e estou bastante
familiarizada com o assunto para saber que está contido em meus genes e no meu
DNA um desejo natural de ter uma prole saudável, e com esse desejo vem uma
vontade desesperada de me acasalar com quem eu considerar ser o melhor macho de
minha espécie. Nunca encontrei na minha vida, até agora, um homem que
despertasse meus loucos instintos de acasalamento como ele. Minha sexualidade
arde com sua proximidade. É irreal. Esta reação. Esta atração. Eu nunca
acreditaria se Kate estivesse me explicando isso, e não estaria então sentindo
como se um caldeirão borbulhante estivesse sob a minha pele.
Como é que vou me livrar disso?
Com os lábios um pouco curvados, como se estivesse se divertindo com uma piada
particular, ele tira os fones de ouvido quando paro à distância de um
braço. O rock que estava ouvindo se espalha pelo silêncio, e ele abruptamente desliga
o iPod. Sinaliza para a direita, e eu me sento, tentando ferozmente bloquear
seu efeito sobre mim.
Descomunal, como ver uma estrela de cinema em pessoa, seu carisma é
impressionante. Ele tem uma aura de força bruta, cada centímetro de seu corpo é
esguio e musculoso, o que dá a impressão de ser um homem, mas com um encanto em
sua expressão que o faz parecer mais jovem e vibrante.
Parece-me que nós somos as pessoas mais jovens do avião, e me sinto ainda mais
jovem do que sou ao me sentar ao lado dele, como se tivesse acabado de me
tornar uma adolescente de novo. Seus lábios se curvam e, honestamente, nunca,
nunca conheci um homem mais autoconfiante do que ele, relaxado de forma quase
sensual em seu assento, os olhos não deixando escapar nada.
– Já conheceu o resto do pessoal? – pergunta.
– Sim – eu sorrio.
Chris me encara, mostrando as covinhas e me avaliando com os olhos. A luz do
sol bate em seu rosto pelo ângulo correto, iluminando os olhos, os cílios negros
e espessos, emoldurando as duas piscinas azuis que me sugam pra dentro.
Quero começar no âmbito profissional, uma vez que essa é a única maneira pela
qual vou poder fazer as coisas funcionarem direito, então prendo o cinto de
segurança ao redor da cintura e vou direto aos negócios.
– Você quis me contratar por causa de uma lesão em particular ou mais por
prevenção? – pergunto.
– Prevenção. – Sua voz é áspera e convida uma onda de arrepios a subir em meus
braços, e eu observo, pela maneira enviesada com que seu grande corpo está
voltado pra mim, que ele não considera necessário o uso de cinto de segurança
em seu avião.
Assentindo com a cabeça, deixo meus olhos à deriva em seu poderoso peito e em
seus braços, então percebo que eu poderia estar olhando muito descaradamente.
– Como estão seus ombros? Os cotovelos? Você quer que eu comece a trabalhar em
alguma coisa para Atlanta? Taylor me disse que é um voo de várias horas.
Sem me responder, ele apenas estende a mão para mim, e é enorme, com cicatrizes
recentes sobre cada um de seus dedos. Fico olhando pra ela até que percebo que
ele a está oferecendo para mim, então eu a pego com minhas duas mãos. Um
arrepio de consciência sai de sua mão e penetra profundamente em mim. Seus
olhos escurecem quando começo a esfregar a palma da mão com os meus polegares
em busca de nós e de rigidez. O contato pele a pele é incrivelmente poderoso, e
eu corro para preencher o silêncio que de repente parece um peso morto que nos
rodeia.
– Não estou acostumada com mãos grandes assim. As mãos de meus alunos eram mais
fáceis de massagear.
Suas covinhas não estão à vista. Não tenho certeza de que ele me ouve. Ele
parece especialmente absorto em assistir aos meus dedos em suas mãos.
– Você está indo bem – diz ele, em voz baixa.
Fico extasiada com as áreas planas e com as depressões de suas mãos, com cada
um dos calos, às dezenas.
– Quantas horas por dia você treina? – pergunto, em voz baixa, enquanto o jato
decola de forma tão suave que mal percebemos que estamos no ar.
Ele ainda está observando meus dedos, os olhos semicerrados.
– Nós fazemos oito. Quatro e quatro.
– Eu adoraria ajudar em seu alongamento quando terminar o treino. É isso que
seus especialistas fazem por você também? – pergunto.
Ele concorda, ainda sem olhar para mim. Então seus olhos se agitam para cima.
– E você? Quem cuida de suas lesões? – Ele sinaliza para minha joelheira,
visível através da minha saia na altura do joelho e que subiu ligeiramente
quando me sentei.
– Ninguém mais, eu já terminei minha reabilitação. – A ideia desse homem vendo
meu vídeo constrangedor me deixa enjoada. – Você me investigou também nisso? Ou
foram seus caras que fizeram isso?
Ele puxa sua mão das minhas e sinaliza para baixo.
– Vamos dar uma olhada.
– Não há nada pra ver.
Mas quando ele continua a olhar para a minha perna através daqueles cílios
escuros, dobro e levanto-a um par de centímetros para mostrar-lhe a minha
joelheira. Ele a agarra com uma mão e abre o velcro com a outra para espiar a minha
pele, então acaricia com os polegares toda a cicatriz no meu joelho.
Há algo dele totalmente diferente me tocando.
Sua mão nua está no meu joelho, e posso sentir seus calos na minha pele.
Não.
Consigo.
Respirar.
Ele sonda mais um pouco, e eu mordo meu lábio inferior e expiro o pouco ar que
ainda permanece em meus pulmões.
– Ainda dói?
Concordo com a cabeça, mas ainda assim só posso realmente pensar naquela mão
enorme e seca. Tocando meu joelho.
– Estive correndo sem a joelheira, e sei que não devia ter feito isso. Só acho
que realmente não me recuperei de verdade.
– Há quanto tempo foi isso?
– Seis anos atrás – hesito, depois acrescento: – E dois... Na segunda vez que
isso aconteceu.
– Ahh, uma lesão dupla. Então, é sensível?
– Muito. – Dou de ombros. – Mas acho que, na segunda vez, tive sorte de ter
começado minha graduação em reabilitação esportiva, porque, caso contrário, não
sei o que eu teria feito.
– É duro não poder mais competir?
Ele olha para mim com total abertura e interesse, e nem sei por que estou
respondendo. Nunca falei sobre isso abertamente com ninguém. Dói em cada parte
de mim. Meu coração, meu orgulho, minha alma.
– Sim. Muito. Você entende isso, certo? – pergunto, em voz baixa, enquanto ele
desce minha perna.
Chris sustenta meu olhar enquanto seu polegar toca levemente meu joelho, então
ambos descemos o olhar para lá, igualmente surpresos ao perceber como era fácil
para ele deixá-lo lá, enquanto nós ficamos conversando, e como foi fácil para
mim permitir que fizesse isso. Ele afasta a mão e não dizemos nada.
Coloco a joelheira de novo, mas, por baixo da cinta, sinto que ele tinha
acabado de encharcar minha pele de gasolina, e que iria explodir em chamas a
qualquer momento que ele me tocasse novamente.
Merda.
Isso não é bom, e eu nem mesmo sei o que fazer comigo mesma. Meu relacionamento
com meus clientes tem sido sempre informal. Eles me chamam pelo meu nome, e eu
os trato pelo deles. Nós fazemos um monte de trabalho juntos e temos um monte
de contato, mas eles nunca me tocam. Só eu faço isso.
– Agora, faça esta.
Enquanto fala, ele estende sua outra mão para mim, fechada num punho, e eu fico
grata pela oportunidade de ficar seriamente acostumada a tocar este homem por
razões profissionais.
Mudando para o meu lado, pego a mão dele entre as minhas e a abro com meus
dedos. Ele se recosta no assento e estica o braço livre, aquele que está mais
próximo de mim, por todo o encosto atrás de meu corpo. Fico incrivelmente consciente
daquele braço e essa constatação chia pelo meu corpo, mesmo que ele não esteja
me tocando, e, mais uma vez, estou impressionada e estranhamente compelida a
tocar a palma dessa mão, para sentir como é áspera, firme e calejada.
Não sei por que ele se senta em um banco, em vez de em um assento individual,
mas de repente sua coxa está muito próxima, com os joelhos dobrados, as pernas
bem abertas, ocupando dois lugares e me deixando com um, e eu posso sentir e
cheirar cada centímetro dele.
Nossos outros quatro companheiros de voo estão rindo lá na frente e os olhos de
Christian passam rapidamente por lá, e então se voltam para mim. Estou
totalmente consciente de seu olhar enquanto pressiono a palma da mão com os polegares,
empurrando firme na pele, até sentir que se desfez o pequeno nó que encontrei.
Continuo sondando e procurando mais, mas não consigo encontrar nenhum, então
passo para o pulso.
Ele tem o mais amplo e vigoroso pulso que já vi, e seu antebraço é
poderosamente construído e moldado com veias grossas que correm até o alto do
braço. Seguro a mão e faço o pulso rodar, ficando impressionada com o movimento
de sua articulação, perfeitamente móvel. Sondo seu antebraço, em seguida seu
bíceps, que endurece e se aperta para mim.
Fecho meus olhos e trabalho profundamente dentro do músculo. De repente, o
braço atrás de mim se dobra, e sua mão se enrola em torno da minha nuca. Ele se
inclina e sussurra:
– Olhe pra mim.
Abro meus olhos para ver que os olhos dele estão brilhando, e ele parece mesmo
estar se divertindo. Acho que ele sabe que estou ficando um pouco perturbada.
Quero largar seu braço e me encolher, mas não quero que seja tão óbvio assim,
então desço o braço com cuidado e sorrio de volta.
– O quê?
– Nada – responde ele, revelando suas covinhas. – Estou muito impressionado.
Você é completa, Anastasia.
– Eu sou. E espere até eu chegar aos seus ombros e costas. Talvez tenha que
ficar sobre você.
Ele ergue uma sobrancelha escura e parece extremamente entretido.
– Quanto você deve pesar?
Dou uma piscada.
– Posso parecer leve, mas sou bastante
musculosa.
Chris deixa escapar um risinho abafado e inclina a cabeça com curiosidade,
enquanto estende a mão para o meu braço e agarra meu pequeno bíceps entre dois
dedos, o qual, felizmente, permanece firme quando ele o aperta.
– Hmm – diz ele, os olhos dançando com alegria.
– O que esse “hummm” significa? – provoco.
Descaradamente ele pega a minha mão e enrola os dedos em torno de seu sexy e
musculoso bíceps. Ele nem sequer flexiona, mas a sua pele lisa e esticada, em
firmeza total sob meus dedos, me deixa sem fôlego. Esse homem é tão...menino.
Exibindo seus músculos. Percebo que está me observando, e seus olhos azuis
brilham com intensidade brincalhona. Mordo meu lábio inferior em resposta.
Meu trabalho exige que eu o toque, e muito, por isso iria parecer um pouco
estranho se eu retirasse minha mão.
Então, em vez disso, dou um leve apertão com os dedos. É como apalpar uma
enorme rocha com absolutamente nada de fissuras.
– Hummm... – digo, com a minha maior cara de pau, tentando disfarçar as emoções
dentro de mim. Estou desfeita.
Completamente desfeita. Cada órgão sexual, em mim, está acordado e dolorido.
Meus instintos de procriação geneticamente induzidos estão em atenção plena,
rugindo aqui dentro.
Ele ri e passa de novo a mão por todo o comprimento do meu braço nu. Mergulha
seus dedos sob a manga da minha camisa e desliza para a direita sobre o meu
músculo tríceps, na parte de trás do meu braço. Seus olhos brilham diabolicamente
porque ele sabe que me dominou por completo. Esta é uma das piores partes de
uma mulher, um lugar onde a gordura corporal pode ser medida com um simples
aperto.
Não há um único lugar em seu corpo onde eu poderia encontrar nem mesmo um pingo
de gordura. Ele provavelmente consome doze mil calorias por dia para manter a
sua massa muscular, o que é em torno daquilo que o famoso nadador olímpico
Michael Phelps consome quando está treinando ativamente. Sua ingestão calórica
é, com facilidade, mais de cinco vezes o que costumo comer para manter o meu
peso, mas agora não tenho mesmo como fazer essas contas. Seus dedos ainda estão
lá, sob a minha camisa, tocando minha pele. Ele tem esse sorriso brincalhão no
rosto, os olhos dançando com malícia, e o clima mudou, até que eu sinta que não
só estamos incrivelmente cientes de nossos corpos, mas que as outras pessoas no
avião também.
– Hmm – diz ele baixinho e, finalmente, dá um apertão. Nós dois rimos.
Limpo minha garganta e procuro endireitar o corpo, incapaz de suportar mais
esse toque. Sinto-me perigosamente tonta e em definitivo isso não me faz feliz.
Assim, puxo meu iPod e headphones de um pequeno saco de viagem que estou
carregando e coloco-os no meu colo. Ele olha para baixo, para eles, então rouba
o meu iPod e conecta seus fones de ouvido e começa a passar por minhas músicas,
me entregando o seu. Procuro algo em sua seleção, mas detesto todas as suas
canções, todas mesmo. Ele curte puro rock, e eu largo meus fones de ouvido e
pego o meu iPod de volta.
– Quem consegue relaxar com isso?
– Quem quer relaxar?
– Eu quero.
– Tome. – Ele me entrega seu iPod de volta. – Eu tenho algumas músicas mais
tranquilas pra você. Ouça uma das minhas e eu vou ouvir uma das suas.
Ele seleciona uma de suas músicas para mim em seu aparelho, então procuro uma
das minhas para ele, e escolho uma girl power, chamada “Love Song”, de Sara
Bareilles, que é basicamente uma garota dizendo ao cara que ele não vai conseguir.
Toco para Chris.
Meu amor por músicas do tipo girl power é quase lendário. Antigas e novas.
Todos os meus amigos ouvem, e até José as canta.
Coloco meus fones de ouvido para ver qual ele escolheu pra mim, e algo acontece
com meu corpo quando ouço as primeiras palavras da canção: E eu desistiria
da eternidade para te tocar... Da música “Iris” do Goo Goo Dolls.
E eu desistiria da eternidade para te tocar...
Porque eu sei que você me sente de alguma forma...
Você é o mais perto do céu que eu já estive, e eu não quero ir para casa
agora...
Abaixo minha cabeça para que ele não perceba que estou corando e quase
tenho que me esforçar para não fazer uma pausa na música, porque aquilo parece
uma intimidade insuportável.
Ouvir esta canção.
Que ele estranhamente selecionou para que eu a ouvisse.
Mas não me atrevo a fazer uma pausa. Mesmo quando ele se inclina para frente
para ver a minha expressão. Seu joelho encosta no meu, e o ponto de contato
explode em mim enquanto a música continua se derramando em meu ouvido. E eu
não quero que o mundo me veja, ela diz, mas eu quero que você saiba quem
sou...
Acho que nem estou respirando, e nem sei se sou capaz.
Ele também está ouvindo a minha música, e seus olhos estão tão pertos dos meus
quando olho para cima que quase posso contar cada um de seus cílios
espetados. Juro que as íris são mais azuis do que o mar do Caribe.
Seus lábios se contorcem com humor, e ele balança a cabeça com o que eu acho
que é uma risada. Uma risada que obviamente não consigo ouvir porque estou
escutando o final de “Iris”, que ouvi pela primeira vez no filme Cidade dos anjos
e que também me fez chorar, assim, por dias... Um cara desiste, literalmente
desiste da eternidade para ficar com a menina por quem se apaixonou, e então
algo trágico acontece, como em um filme de Nicholas Sparks.
Quando o silêncio se segue ao fim, lentamente tiro meus fones de ouvido e
devolvo o iPod dele.
– Eu nem sabia que você tinha músicas lentas – murmuro, totalmente envolvida em
uma nova conversa com o meu iPod, que ele já devolveu.
Sua voz é baixa e íntima.
– Eu tenho vinte mil canções, tudo está aqui.
– Não! – respondo em descrença enquanto me viro para verificar, e é verdade. Kate
acha que ela é o máximo porque tem dez mil músicas, e vou ter que dizer a ela
que ela não é...
E agora, o que eu não consigo esquecer é que, dentre vinte mil canções, ele
escolheu justo aquela para mim.
– Você gostou? – Seus olhos me perfuram e sei que ele pode ver que estou
corando, mas não posso evitar.
Concordo com a cabeça.
Meu iPod parece mais quente do que o normal quando começo a brincar
nervosamente com ele, e me recuso a pensar que esse calor veio da mão de Christian.
Mas veio, de sua mão enorme, cheia de cicatrizes, bronzeada e viril. Com as bochechas
queimando ainda mais, tento me afundar em meu próprio mundo musical.
Ocasionalmente, durante o voo, ele me passa seus fones de ouvido e o iPod, e me
faz ouvir uma de suas músicas, e eu procuro uma para ele. Não sei o que está
acontecendo comigo, mas quando ele me lança aquele sorriso preguiçoso que mostra
as covinhas, ouvindo todas as músicas de meninas que entrego a ele, tipo “I
Will Survive”, da Gloria Gaynor, quero derreter; em especial quando, ao mesmo
tempo, aquele demônio sorri maliciosamente e decide me provocar enquanto toca
“Love Bites”, do Def Leppard, pra mim.
Quero morrer quando o som poderoso de seu Dr. Dre se derrama em meus ouvidos,
pressionando aqueles vocais profundos e masculinos bem dentro de meu corpo,
cada palavra sexy parecendo pulsar descaradamente no meu sexo. As palavras são
tão cruas e carnais que me fazem pensar sobre mim e ele nos tocando e nos
beijando e nos amando... E odeio isso por uma fração de segundo, e ainda
acredito que é exatamente o que ele queria que eu pensasse.
***
Estou dividindo o quarto com Gail, em
Atlanta, e acho maravilhoso que ela mantenha a sua pasta de dentes, a sua escova
de dentes e todas as suas coisas de mulher tão bem escondidas como eu. Ela é
uma grande companheira de quarto, ensolarada e positiva a cada momento do dia,
e eu gosto muito que nós comecemos a falar sobre culinária saudável durante a
noite, quando pulamos para nossas camas individuais queen size.
Soube então que ela faz suas compras dos melhores e mais frescos ingredientes
nas primeiras horas da manhã, e que só faz as comidas para Christian com
alimentos orgânicos, todos os dias, e ainda que ele se alimenta a cada três ou quatro
horas, e que é por isso que os seus treinos são espaçados em seções 3-2-3 ou
4-4, com as refeições mais pesadas nesta última. O homem come o mesmo que três
leões adultos. Uma grande quantidade de proteína. Um monte de legumes. E na
janela de meia hora depois de seus treinamentos, come tantos carboidratos que
até eu chego a ficar com altas doses de carboidratos só de pensar nessas
deliciosas batatas doces e massas que ele devora.
Gail tempera todas as refeições com ervas naturais, como tomilho, manjericão,
alecrim, uma pequena pitada de alho ou pimenta caiena, e algumas combinações
que fui anotando para quando voltar para casa. Ela é divorciada, aos 39 anos, e
também me disse que terminaremos a última luta em Nova York, no final desta
turnê, uma cidade que eu sempre quis visitar.
Amanhã Christian tem a primeira das suas duas lutas em Atlanta, e nesta tarde
estou esperando em sua academia alugada, para alongá-lo quando ele tiver
acabado. É a nossa terceira noite aqui, e já percebi que Christian Grey treina como
um louco.
Um.
Louco.
Hoje, em particular, parece impossível pará-lo.
– Tem alguma razão pela qual ele está treinando forte a esta hora? – pergunta Taylor
ao treinador Lupe.
– Ei, Grey! Pare de se mostrar na frente da Anastasia! – grita o treinador, e
nós ouvimos uma risada do outro lado do ginásio, onde Christian está matando
impiedosamente um saco de couro, daqueles para ganhar velocidade.
– Não consigo fazer ele se cansar – diz Lupe, ao se voltar para nós. Ele
desliza uma mão por sua cabeça careca enquanto verifica um tipo de timer que
traz preso em torno do pescoço. Sua habitual carranca se aprofunda em intensidade.
– Nós estamos indo para nove horas hoje e ele ainda tem energia. Mas nem olhe
pra mim, Taylor. Nós dois sabíamos que isso iria acontecer quando ele...
Ambas as cabeças giraram em minha direção como se não pudessem continuar
falando se eu não desse o fora, então levanto as minhas sobrancelhas.
– O quê? Vocês querem que eu vá embora?
Lupe balança a cabeça e volta a Christian, que ainda está esmurrando o saco de
couro, voando no vento como um morcego batendo em todos os lugares. Seus braços
balançam com precisão, cada impulso fazendo-o bater no ponto morto do saco
quando ele balança de volta. O som que sai é rítmico e acelerado, mais rápido a
cada segundo, thadumthadumthadumpthadump...
– Nove horas por dia é realmente excessivo, você não acha? Mesmo sete por dia é
uma loucura – digo a Taylor do lado de fora do ringue. Hoje nós fomos muito além
do seu tempo de treinamento 4-4, e eu estou chocada, porque o homem ainda
continua.
Mesmo quando eu treinava para as Olimpíadas, eu não me matava desse jeito e,
francamente, a programação de treinamento de Christian me deixa curiosa. Hoje
ele fez abdominais, nos quais se apoia nos pés e balança o corpo até os joelhos
o mais rápido que puder, exercitando-se como se não estivesse fazendo nada.
Ainda fez flexões, pranchas, cordas. Ele pula corda com apenas um pé, depois
muda para o outro, daí cruza a corda, faz balanços, torções e voltas, o tempo
todo eu mal consigo ver a corda, tamanha a velocidade que ele dá, a corda
batendo no chão de forma ritmada.
Depois de tudo isso, ele ainda faz sombra ou vai para o ringue com um sparring,
e se esse parceiro se desgasta antes do que ele – como hoje –, Chris volta para
os sacos pesados ou para os sacos menores de couro e acaba ensopado.
– Ele gosta de se acabar – explica Taylor enquanto assistimos. – Se ainda puder
dar um soco no final do dia, vai acabar pulando no pescoço do treinador porque
ele não o treinou o suficiente.
É preciso mais uma hora para ele ir mais devagar, e quando o treinador assobia
me chamando, eu é que estou morta de cansaço de tanto estímulo visual ao
assistir Christian Grey treinando. Cada movimento que ele faz é tão agressivamente
primal que se torna sexual para mim.
Mesmo num moletom e camiseta, não há como deixar de notar os músculos do peito
por baixo do algodão úmido, e a maneira como sua calça de moletom pende bem
abaixo de seus quadris estreitos faz com que meus seios fiquem tão pesados e
doloridos que, juro por Deus, não consigo imaginar como eles ficarão se um dia
eu amamentar.
Sufocando um arrepio quente, faço as minhas pernas se moverem e piso nos
tapetes onde Christian está de pé, esperando por mim, já sem camisa. Riachos de
suor grudam no torso, e sei que ele está perfeitamente aquecido e que seus
músculos foram treinados à exaustão. Não há mais glicogênio muscular
armazenado, sua glicose está baixa, e ele estará tão quente que vai ser como um
pretzel quente quando eu o manobrar. A mera possibilidade de fazer isso me
deixa igualmente quente. É um sonho meu, dedicar minha vida a esse trabalho,
mas é algo tão tátil que, com este homem, se torna um grande desafio. Não só
porque seus músculos são tão fortes em relação aos meus, mas porque mal posso
estabelecer um contato com sua pele bronzeada sem ficar tonta. Todos os meus
poros saltam atentos e aguçados para saber qual parte de meu corpo está tocando
o dele. E eu realmente odeio essa perda de controle em mim.
Agora observo seus músculos se incharem enquanto se enxuga e esfrega a toalha
pelo cabelo molhado, deixando-o ainda mais sexy e espetado. Também estou usando
tênis e uma roupa de corrida apertada para poder me mover mais facilmente sobre
ele, e aqueles olhos azuis impressionantes pulam em cima de mim quando me
aproximo.
Ele está ofegante, sem sorrir, então cai sobre um banco, enquanto eu dou a
volta e começo com ele, por trás.
Chris geme quando passo os meus dedos ao redor dos ombros e começo a mexer
fundo. Faíscas de emoção me atacam abaixo da barriga quando travo contato, mas
tento sufocar todas as minhas reações e foco em afrouxar seu pescoço, seus
músculos tríceps e bíceps. Empurro seus peitorais, seu abdômen, tentando não
responder como uma mulher a cada aperto de seus músculos sob meus dedos, aquele
incrível bronzeado de sua pele sob meu toque.
Trabalhamos com todas as juntas, puxando tudo para ficar solto, meus movimentos
ocasionalmente fazendo-o ronronar baixo. Meus músculos sexuais se apertam e eu
tento relaxá-los, mas cada vez que ele geme, eles se fecham e se apertam com
mais força.
Também me dá ódio quando eles fazem isso.
Parece que a arte de relaxar este homem me excita à décima potência.
Mas pelo menos eu não estou mais desempregada.
Respirando lenta e profundamente, gasto mais tempo esfregando os deltoides, a
parte mais redonda do ombro. Estico e enrolo com os dedos, e depois sigo para o
supraespinhal, um pequeno músculo na face superior da escápula, o que estava
mais machucado dos quatro músculos por ali.
Ele ainda está ofegante quando termino, só que agora eu também estou.
O treinador assobia.
– Tudo bem, pro chuveiro. Vejo você amanhã às seis horas e pronto pra lutar.
Agora vá comer. Coma uma vaca inteira.
Christian me puxa do chão, onde eu tinha trabalhado suas costas, com os olhos
azuis brilhando ao apertar meus dedos um segundo a mais do que eu esperava.
– Nada de ficar em cima de mim ainda?
Demorei um momento para lembrar a nossa conversa do avião, e sorri.
– Ainda não. Mas não se preocupe. Se
você continuar treinando desse jeito, nós vamos chegar lá antes que você perceba.
Ele ri e atira uma toalha em volta do pescoço enquanto se dirige para os
chuveiros, e horas mais tarde descubro que ele praticamente deve ter caído
morto ao ir dormir, após o esforço que fez. Eu, por outro lado, fiquei
acordada, sem sono.
Já tinha apertado meus tríceps três vezes desde a nossa chegada, e decidido que
não sou gorda, e mesmo assim, ainda me pergunto o que significa hmm.
Penso no avião e em sua mão sobre os meus tríceps, seus olhos azuis no meu
rosto e a maneira como seu olhar me avaliou quando caminhei até ele para
massagear os músculos. Penso no jeito como tem me provocado e se divertido comigo
nestes últimos três dias, e só não entendo por que tudo isso me faz contorcer
por dentro e sentir pequenos arrepios quentes ao meu redor.
Minhas glândulas suprarrenais vão explodir se continuar assim.
Tento pensar em outra coisa, mas minhas pernas estão inquietas debaixo dos
lençóis, e a necessidade de sair e correr me devora. Gostaria de poder correr
com velocidade, sentir as endorfinas em vez dessas picadas em meus nervos que me
roem o cérebro, essa necessidade estranha que floresce dentro de mim quando
vejo Christian Grey. Mesmo quando neguei o fato a Kate, eu tinha muita certeza
de que ele me desejava naquela primeira noite em Seattle, só não sei o que
aconteceu que me fez, em vez de ser desejada, ser contratada por ele...
Mas era o que eu queria, não era? Um emprego.
Só que o preço a pagar por meu novo trabalho é um pouco de tortura sexual.
Grande coisa. Tenho apenas que controlá-lo melhor amanhã. Com essa nova
resolução, pego meu iPod da mesa de cabeceira e coloco música para tocar, me
forçando a ouvir qualquer uma, menos aquelas que ele tocou para mim.
e bom demais os capitulos aqui não sei se é besteira minha mais parecem maiores mais completos incriveis parabéns
ResponderExcluirA tensão sexual entre eles está até palpável
ResponderExcluirque tensão....a insônia vai ser longa.....rsrsrsrs
ResponderExcluirEle treinou muito para ter ela tocando nele😃😃😃❤️❤️❤️
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