LPA Capítulo 4

em sábado, 22 de janeiro de 2022

Capítulo 4

 

PARA ATLANTA

Ana
O jato particular é enorme, e Taylor sinaliza para que eu embarque antes dele. Ele veio me buscar em casa faz menos de uma hora, e parecia muito bem arrumado num terno estilo Homens de preto. Subo a escada e percebo que se pode de fato ficar de pé dentro do avião, como se fosse num avião desses de voos internacionais. No entanto, nenhum avião comercial onde eu já tenha estado tem uma fração do luxo que tem este aqui. Veludo, couro, revestimento de mogno, enfeites dourados, monitores de última geração adornam o interior. Tudo uma coleção de extravagâncias nesse grande e incrível brinquedinho de um homem rico.
As poltronas estão organizadas em áreas que se assemelham a pequenas salas de estar, e nesta primeira seção há quatro assentos de couro marfim, maiores do que um assento de primeira classe. Eles estão ocupados por Sawyer, que fica de pé sorrindo para me cumprimentar, assim como pelos outros dois membros da equipe de Christian, seu personal trainer, Lupe, um homem careca e quarentão que se parece com Daddy Warbucks do filme Annie, e sua chef e nutricionista, Gail, que reconheço como a mulher que entregou os ingressos pra mim.
– Prazer em conhecê-la, senhorita Steele – diz o treinador Lupe, com uma espécie de carranca em seu rosto que, de alguma maneira, percebo ser sua expressão natural.
Aperto sua mão.
– Igualmente, senhor.
– Oh, me chame de treinador, como todo mundo faz.
– Bem... Olá de novo – diz Gail, seu aperto de mão suave e gentil. – Sou Gail Jones, a chef, nutricionista e
garota de entregas.
Eu rio.
– É muito bom ver você de novo, Gail.
O clima entre eles é realmente muito aberto e verdadeiro, e uma pontada de emoção gira em torno a mim com a ideia de pertencer a uma equipe de novo. Na verdade, o que me faria imensamente feliz e satisfeita como profissional é saber que, a partir de agora, quando Christian Grey entrar em um ringue, ele vai fluir como uma abelha com a força de uma dúzia de bois, e é maravilhoso saber que estou trabalhando com outras pessoas especializadas e cujos objetivos são os mesmos.
– Anastasia. – Taylor sinaliza para a parte de trás do avião, e depois do longo corredor acarpetado, passando outra seção de outros quatro assentos, uma enorme tela de televisão e um imenso bar com painéis de madeira, está um banco de couro que se parece muito com um sofá. E lá, no meio dele, com seu cabelo escuro de lado enquanto escuta seus fones de ouvido, está Christian Grey. Mais de um metro e oitenta de testosterona.
Um calor inesperado se atira diretamente em minha corrente sanguínea à primeira visão dele durante o dia. Ele veste uma camiseta preta que se agarra a seus músculos e jeans desgastados de cintura baixa, e seu corpo absurdamente trabalhado usa tudo isso com perfeição glamurosa, enquanto se espalha no espaçoso banco de couro na outra extremidade.
Meu coração dá um pulo selvagem, porque ele parece tão incrivelmente sexy como sempre, e eu realmente gostaria de não ter percebido isso de forma tão automática. Mas acho que não se pode deixar de notar algo tão descaradamente sexual como ele.
– Ele quer você lá trás – diz Taylor. E não posso deixar de notar que ele soa quase como se estivesse pedindo desculpas.
Engolindo em seco, deslizo inquieta pelo corredor do avião no momento em que ele olha pra cima, seus olhos capturando os meus. Acho que os vejo brilhar, mas não consigo ler nada em sua expressão enquanto ele atentamente observa minha aproximação.
Seu olhar me deixa tão nervosa que sinto o formigamento, mais uma vez, bem lá dentro.
Ele é o homem mais forte que já vi em toda a minha vida, e estou bastante familiarizada com o assunto para saber que está contido em meus genes e no meu DNA um desejo natural de ter uma prole saudável, e com esse desejo vem uma vontade desesperada de me acasalar com quem eu considerar ser o melhor macho de minha espécie. Nunca encontrei na minha vida, até agora, um homem que despertasse meus loucos instintos de acasalamento como ele. Minha sexualidade arde com sua proximidade. É irreal. Esta reação. Esta atração. Eu nunca acreditaria se Kate estivesse me explicando isso, e não estaria então sentindo como se um caldeirão borbulhante estivesse sob a minha pele.
Como é que vou me livrar disso?
Com os lábios um pouco curvados, como se estivesse se divertindo com uma piada particular, ele tira os fones de
ouvido quando paro à distância de um braço. O rock que estava ouvindo se espalha pelo silêncio, e ele abruptamente desliga o iPod. Sinaliza para a direita, e eu me sento, tentando ferozmente bloquear seu efeito sobre mim.
Descomunal, como ver uma estrela de cinema em pessoa, seu carisma é impressionante. Ele tem uma aura de força bruta, cada centímetro de seu corpo é esguio e musculoso, o que dá a impressão de ser um homem, mas com um encanto em sua expressão que o faz parecer mais jovem e vibrante.
Parece-me que nós somos as pessoas mais jovens do avião, e me sinto ainda mais jovem do que sou ao me sentar ao lado dele, como se tivesse acabado de me tornar uma adolescente de novo. Seus lábios se curvam e, honestamente, nunca, nunca conheci um homem mais autoconfiante do que ele, relaxado de forma quase sensual em seu assento, os olhos não deixando escapar nada.
– Já conheceu o resto do pessoal? – pergunta.
– Sim – eu sorrio.
Chris me encara, mostrando as covinhas e me avaliando com os olhos. A luz do sol bate em seu rosto pelo ângulo correto, iluminando os olhos, os cílios negros e espessos, emoldurando as duas piscinas azuis que me sugam pra dentro.
Quero começar no âmbito profissional, uma vez que essa é a única maneira pela qual vou poder fazer as coisas funcionarem direito, então prendo o cinto de segurança ao redor da cintura e vou direto aos negócios.
– Você quis me contratar por causa de uma lesão em particular ou mais por prevenção? – pergunto.
– Prevenção. – Sua voz é áspera e convida uma onda de arrepios a subir em meus braços, e eu observo, pela maneira enviesada com que seu grande corpo está voltado pra mim, que ele não considera necessário o uso de cinto de segurança em seu avião.
Assentindo com a cabeça, deixo meus olhos à deriva em seu poderoso peito e em seus braços, então percebo que eu poderia estar olhando muito descaradamente.
– Como estão seus ombros? Os cotovelos? Você quer que eu comece a trabalhar em alguma coisa para Atlanta? Taylor me disse que é um voo de várias horas.
Sem me responder, ele apenas estende a mão para mim, e é enorme, com cicatrizes recentes sobre cada um de seus dedos. Fico olhando pra ela até que percebo que ele a está oferecendo para mim, então eu a pego com minhas duas mãos. Um arrepio de consciência sai de sua mão e penetra profundamente em mim. Seus olhos escurecem quando começo a esfregar a palma da mão com os meus polegares em busca de nós e de rigidez. O contato pele a pele é incrivelmente poderoso, e eu corro para preencher o silêncio que de repente parece um peso morto que nos rodeia.
– Não estou acostumada com mãos grandes assim. As mãos de meus alunos eram mais fáceis de massagear.
Suas covinhas não estão à vista. Não tenho certeza de que ele me ouve. Ele parece especialmente absorto em assistir aos meus dedos em suas mãos.
– Você está indo bem – diz ele, em voz baixa.
Fico extasiada com as áreas planas e com as depressões de suas mãos, com cada um dos calos, às dezenas.
– Quantas horas por dia você treina? – pergunto, em voz baixa, enquanto o jato decola de forma tão suave que mal percebemos que estamos no ar.
Ele ainda está observando meus dedos, os olhos semicerrados.
– Nós fazemos oito. Quatro e quatro.
– Eu adoraria ajudar em seu alongamento quando terminar o treino. É isso que seus especialistas fazem por você também? – pergunto.
Ele concorda, ainda sem olhar para mim. Então seus olhos se agitam para cima.
– E você? Quem cuida de suas lesões? – Ele sinaliza para minha joelheira, visível através da minha saia na altura do joelho e que subiu ligeiramente quando me sentei.
– Ninguém mais, eu já terminei minha reabilitação. – A ideia desse homem vendo meu vídeo constrangedor me deixa enjoada. – Você me investigou também nisso? Ou foram seus caras que fizeram isso?
Ele puxa sua mão das minhas e sinaliza para baixo.
– Vamos dar uma olhada.
– Não há nada pra ver.
Mas quando ele continua a olhar para a minha perna através daqueles cílios escuros, dobro e levanto-a um par de centímetros para mostrar-lhe a minha joelheira. Ele a agarra com uma mão e abre o velcro com a outra para espiar a minha pele, então acaricia com os polegares toda a cicatriz no meu joelho.
Há algo dele totalmente diferente me tocando.
Sua mão nua está no meu joelho, e posso sentir seus calos na minha pele.
Não.
Consigo.

Respirar.
Ele sonda mais um pouco, e eu mordo meu lábio inferior e expiro o pouco ar que ainda permanece em meus pulmões.
– Ainda dói?
Concordo com a cabeça, mas ainda assim só posso realmente pensar naquela mão enorme e seca. Tocando meu joelho.
– Estive correndo sem a joelheira, e sei que não devia ter feito isso. Só acho que realmente não me recuperei de verdade.
– Há quanto tempo foi isso?
– Seis anos atrás – hesito, depois acrescento: – E dois... Na segunda vez que isso aconteceu.
– Ahh, uma lesão dupla. Então, é sensível?
– Muito. – Dou de ombros. – Mas acho que, na segunda vez, tive sorte de ter começado minha graduação em reabilitação esportiva, porque, caso contrário, não sei o que eu teria feito.
– É duro não poder mais competir?
Ele olha para mim com total abertura e interesse, e nem sei por que estou respondendo. Nunca falei sobre isso abertamente com ninguém. Dói em cada parte de mim. Meu coração, meu orgulho, minha alma.
– Sim. Muito. Você entende isso, certo? – pergunto, em voz baixa, enquanto ele desce minha perna.
Chris sustenta meu olhar enquanto seu polegar toca levemente meu joelho, então ambos descemos o olhar para lá, igualmente surpresos ao perceber como era fácil para ele deixá-lo lá, enquanto nós ficamos conversando, e como foi fácil para mim permitir que fizesse isso. Ele afasta a mão e não dizemos nada.
Coloco a joelheira de novo, mas, por baixo da cinta, sinto que ele tinha acabado de encharcar minha pele de gasolina, e que iria explodir em chamas a qualquer momento que ele me tocasse novamente.
Merda.
Isso não é bom, e eu nem mesmo sei o que fazer comigo mesma. Meu relacionamento com meus clientes tem sido sempre informal. Eles me chamam pelo meu nome, e eu os trato pelo deles. Nós fazemos um monte de trabalho juntos e temos um monte de contato, mas eles nunca me tocam. Só eu faço isso.
– Agora, faça esta.
Enquanto fala, ele estende sua outra mão para mim, fechada num punho, e eu fico grata pela oportunidade de ficar seriamente acostumada a tocar este homem por razões profissionais.
Mudando para o meu lado, pego a mão dele entre as minhas e a abro com meus dedos. Ele se recosta no assento e estica o braço livre, aquele que está mais próximo de mim, por todo o encosto atrás de meu corpo. Fico incrivelmente consciente daquele braço e essa constatação chia pelo meu corpo, mesmo que ele não esteja me tocando, e, mais uma vez, estou impressionada e estranhamente compelida a tocar a palma dessa mão, para sentir como é áspera, firme e calejada.
Não sei por que ele se senta em um banco, em vez de em um assento individual, mas de repente sua coxa está muito próxima, com os joelhos dobrados, as pernas bem abertas, ocupando dois lugares e me deixando com um, e eu posso sentir e cheirar cada centímetro dele.
Nossos outros quatro companheiros de voo estão rindo lá na frente e os olhos de Christian passam rapidamente por lá, e então se voltam para mim. Estou totalmente consciente de seu olhar enquanto pressiono a palma da mão com os polegares, empurrando firme na pele, até sentir que se desfez o pequeno nó que encontrei. Continuo sondando e procurando mais, mas não consigo encontrar nenhum, então passo para o pulso.
Ele tem o mais amplo e vigoroso pulso que já vi, e seu antebraço é poderosamente construído e moldado com veias grossas que correm até o alto do braço. Seguro a mão e faço o pulso rodar, ficando impressionada com o movimento de sua articulação, perfeitamente móvel. Sondo seu antebraço, em seguida seu bíceps, que endurece e se aperta para mim.
Fecho meus olhos e trabalho profundamente dentro do músculo. De repente, o braço atrás de mim se dobra, e sua mão se enrola em torno da minha nuca. Ele se inclina e sussurra:
– Olhe pra mim.
Abro meus olhos para ver que os olhos dele estão brilhando, e ele parece mesmo estar se divertindo. Acho que ele sabe que estou ficando um pouco perturbada. Quero largar seu braço e me encolher, mas não quero que seja tão óbvio assim, então desço o braço com cuidado e sorrio de volta.
– O quê?
– Nada – responde ele, revelando suas covinhas. – Estou muito impressionado. Você é completa, Anastasia.
– Eu sou. E espere até eu chegar aos seus ombros e costas. Talvez tenha que ficar sobre você.
Ele ergue uma sobrancelha escura e parece extremamente entretido.
– Quanto você deve pesar?
Dou uma piscada.

– Posso parecer leve, mas sou bastante musculosa.
Chris deixa escapar um risinho abafado e inclina a cabeça com curiosidade, enquanto estende a mão para o meu braço e agarra meu pequeno bíceps entre dois dedos, o qual, felizmente, permanece firme quando ele o aperta.
– Hmm – diz ele, os olhos dançando com alegria.
– O que esse “hummm” significa? – provoco.
Descaradamente ele pega a minha mão e enrola os dedos em torno de seu sexy e musculoso bíceps. Ele nem sequer flexiona, mas a sua pele lisa e esticada, em firmeza total sob meus dedos, me deixa sem fôlego. Esse homem é tão...menino. Exibindo seus músculos. Percebo que está me observando, e seus olhos azuis brilham com intensidade brincalhona. Mordo meu lábio inferior em resposta.
Meu trabalho exige que eu o toque, e muito, por isso iria parecer um pouco estranho se eu retirasse minha mão.
Então, em vez disso, dou um leve apertão com os dedos. É como apalpar uma enorme rocha com absolutamente nada de fissuras.
– Hummm... – digo, com a minha maior cara de pau, tentando disfarçar as emoções dentro de mim. Estou desfeita.
Completamente desfeita. Cada órgão sexual, em mim, está acordado e dolorido. Meus instintos de procriação geneticamente induzidos estão em atenção plena, rugindo aqui dentro.
Ele ri e passa de novo a mão por todo o comprimento do meu braço nu. Mergulha seus dedos sob a manga da minha camisa e desliza para a direita sobre o meu músculo tríceps, na parte de trás do meu braço. Seus olhos brilham diabolicamente porque ele sabe que me dominou por completo. Esta é uma das piores partes de uma mulher, um lugar onde a gordura corporal pode ser medida com um simples aperto.
Não há um único lugar em seu corpo onde eu poderia encontrar nem mesmo um pingo de gordura. Ele provavelmente consome doze mil calorias por dia para manter a sua massa muscular, o que é em torno daquilo que o famoso nadador olímpico Michael Phelps consome quando está treinando ativamente. Sua ingestão calórica é, com facilidade, mais de cinco vezes o que costumo comer para manter o meu peso, mas agora não tenho mesmo como fazer essas contas. Seus dedos ainda estão lá, sob a minha camisa, tocando minha pele. Ele tem esse sorriso brincalhão no rosto, os olhos dançando com malícia, e o clima mudou, até que eu sinta que não só estamos incrivelmente cientes de nossos corpos, mas que as outras pessoas no avião também.
– Hmm – diz ele baixinho e, finalmente, dá um apertão. Nós dois rimos.
Limpo minha garganta e procuro endireitar o corpo, incapaz de suportar mais esse toque. Sinto-me perigosamente tonta e em definitivo isso não me faz feliz. Assim, puxo meu iPod e headphones de um pequeno saco de viagem que estou carregando e coloco-os no meu colo. Ele olha para baixo, para eles, então rouba o meu iPod e conecta seus fones de ouvido e começa a passar por minhas músicas, me entregando o seu. Procuro algo em sua seleção, mas detesto todas as suas canções, todas mesmo. Ele curte puro rock, e eu largo meus fones de ouvido e pego o meu iPod de volta.
– Quem consegue relaxar com isso?
– Quem quer relaxar?
– Eu quero.
– Tome. – Ele me entrega seu iPod de volta. – Eu tenho algumas músicas mais tranquilas pra você. Ouça uma das minhas e eu vou ouvir uma das suas.
Ele seleciona uma de suas músicas para mim em seu aparelho, então procuro uma das minhas para ele, e escolho uma girl power, chamada “Love Song”, de Sara Bareilles, que é basicamente uma garota dizendo ao cara que ele não vai conseguir. Toco para Chris.
Meu amor por músicas do tipo girl power é quase lendário. Antigas e novas. Todos os meus amigos ouvem, e até José as canta.
Coloco meus fones de ouvido para ver qual ele escolheu pra mim, e algo acontece com meu corpo quando ouço as primeiras palavras da canção: E eu desistiria da eternidade para te tocar... Da música “Iris” do Goo Goo Dolls.
E eu desistiria da eternidade para te tocar...
Porque eu sei que você me sente de alguma forma...
Você é o mais perto do céu que eu já estive, e eu não quero ir para casa agora...
Abaixo minha cabeça para que ele não perceba que estou corando e quase tenho que me esforçar para não fazer uma pausa na música, porque aquilo parece uma intimidade insuportável.
Ouvir esta canção.
Que ele estranhamente selecionou para que eu a ouvisse.
Mas não me atrevo a fazer uma pausa. Mesmo quando ele se inclina para frente para ver a minha expressão. Seu joelho encosta no meu, e o ponto de contato explode em mim enquanto a música continua se derramando em meu ouvido. E eu não quero que o mundo me veja, ela diz, mas eu quero que você saiba quem sou...
Acho que nem estou respirando, e nem sei se sou capaz.
Ele também está ouvindo a minha música, e seus olhos estão tão pertos dos meus quando olho para cima que quase
posso contar cada um de seus cílios espetados. Juro que as íris são mais azuis do que o mar do Caribe.
Seus lábios se contorcem com humor, e ele balança a cabeça com o que eu acho que é uma risada. Uma risada que obviamente não consigo ouvir porque estou escutando o final de “Iris”, que ouvi pela primeira vez no filme Cidade dos anjos e que também me fez chorar, assim, por dias... Um cara desiste, literalmente desiste da eternidade para ficar com a menina por quem se apaixonou, e então algo trágico acontece, como em um filme de Nicholas Sparks.
Quando o silêncio se segue ao fim, lentamente tiro meus fones de ouvido e devolvo o iPod dele.
– Eu nem sabia que você tinha músicas lentas – murmuro, totalmente envolvida em uma nova conversa com o meu iPod, que ele já devolveu.
Sua voz é baixa e íntima.
– Eu tenho vinte mil canções, tudo está aqui.
– Não! – respondo em descrença enquanto me viro para verificar, e é verdade. Kate acha que ela é o máximo porque tem dez mil músicas, e vou ter que dizer a ela que ela não é...
E agora, o que eu não consigo esquecer é que, dentre vinte mil canções, ele escolheu justo aquela para mim.
– Você gostou? – Seus olhos me perfuram e sei que ele pode ver que estou corando, mas não posso evitar.
Concordo com a cabeça.
Meu iPod parece mais quente do que o normal quando começo a brincar nervosamente com ele, e me recuso a pensar que esse calor veio da mão de Christian. Mas veio, de sua mão enorme, cheia de cicatrizes, bronzeada e viril. Com as bochechas queimando ainda mais, tento me afundar em meu próprio mundo musical.
Ocasionalmente, durante o voo, ele me passa seus fones de ouvido e o iPod, e me faz ouvir uma de suas músicas, e eu procuro uma para ele. Não sei o que está acontecendo comigo, mas quando ele me lança aquele sorriso preguiçoso que mostra as covinhas, ouvindo todas as músicas de meninas que entrego a ele, tipo “I Will Survive”, da Gloria Gaynor, quero derreter; em especial quando, ao mesmo tempo, aquele demônio sorri maliciosamente e decide me provocar enquanto toca “Love Bites”, do Def Leppard, pra mim.
Quero morrer quando o som poderoso de seu Dr. Dre se derrama em meus ouvidos, pressionando aqueles vocais profundos e masculinos bem dentro de meu corpo, cada palavra sexy parecendo pulsar descaradamente no meu sexo. As palavras são tão cruas e carnais que me fazem pensar sobre mim e ele nos tocando e nos beijando e nos amando... E odeio isso por uma fração de segundo, e ainda acredito que é exatamente o que ele queria que eu pensasse.
***
Estou dividindo o quarto com Gail, em Atlanta, e acho maravilhoso que ela mantenha a sua pasta de dentes, a sua escova de dentes e todas as suas coisas de mulher tão bem escondidas como eu. Ela é uma grande companheira de quarto, ensolarada e positiva a cada momento do dia, e eu gosto muito que nós comecemos a falar sobre culinária saudável durante a noite, quando pulamos para nossas camas individuais queen size.
Soube então que ela faz suas compras dos melhores e mais frescos ingredientes nas primeiras horas da manhã, e que só faz as comidas para Christian com alimentos orgânicos, todos os dias, e ainda que ele se alimenta a cada três ou quatro horas, e que é por isso que os seus treinos são espaçados em seções 3-2-3 ou 4-4, com as refeições mais pesadas nesta última. O homem come o mesmo que três leões adultos. Uma grande quantidade de proteína. Um monte de legumes. E na janela de meia hora depois de seus treinamentos, come tantos carboidratos que até eu chego a ficar com altas doses de carboidratos só de pensar nessas deliciosas batatas doces e massas que ele devora.
Gail tempera todas as refeições com ervas naturais, como tomilho, manjericão, alecrim, uma pequena pitada de alho ou pimenta caiena, e algumas combinações que fui anotando para quando voltar para casa. Ela é divorciada, aos 39 anos, e também me disse que terminaremos a última luta em Nova York, no final desta turnê, uma cidade que eu sempre quis visitar.
Amanhã Christian tem a primeira das suas duas lutas em Atlanta, e nesta tarde estou esperando em sua academia alugada, para alongá-lo quando ele tiver acabado. É a nossa terceira noite aqui, e já percebi que Christian Grey treina como um louco.
Um.
Louco.
Hoje, em particular, parece impossível pará-lo.
– Tem alguma razão pela qual ele está treinando forte a esta hora? – pergunta Taylor ao treinador Lupe.
– Ei, Grey! Pare de se mostrar na frente da Anastasia! – grita o treinador, e nós ouvimos uma risada do outro lado do ginásio, onde Christian está matando impiedosamente um saco de couro, daqueles para ganhar velocidade.
– Não consigo fazer ele se cansar – diz Lupe, ao se voltar para nós. Ele desliza uma mão por sua cabeça careca enquanto verifica um tipo de timer que traz preso em torno do pescoço. Sua habitual carranca se aprofunda em intensidade. – Nós estamos indo para nove horas hoje e ele ainda tem energia. Mas nem olhe pra mim, Taylor. Nós dois sabíamos que isso iria acontecer quando ele...
Ambas as cabeças giraram em minha direção como se não pudessem continuar falando se eu não desse o fora, então
levanto as minhas sobrancelhas.
– O quê? Vocês querem que eu vá embora?
Lupe balança a cabeça e volta a Christian, que ainda está esmurrando o saco de couro, voando no vento como um morcego batendo em todos os lugares. Seus braços balançam com precisão, cada impulso fazendo-o bater no ponto morto do saco quando ele balança de volta. O som que sai é rítmico e acelerado, mais rápido a cada segundo, thadumthadumthadumpthadump...
– Nove horas por dia é realmente excessivo, você não acha? Mesmo sete por dia é uma loucura – digo a Taylor do lado de fora do ringue. Hoje nós fomos muito além do seu tempo de treinamento 4-4, e eu estou chocada, porque o homem ainda continua.
Mesmo quando eu treinava para as Olimpíadas, eu não me matava desse jeito e, francamente, a programação de treinamento de Christian me deixa curiosa. Hoje ele fez abdominais, nos quais se apoia nos pés e balança o corpo até os joelhos o mais rápido que puder, exercitando-se como se não estivesse fazendo nada. Ainda fez flexões, pranchas, cordas. Ele pula corda com apenas um pé, depois muda para o outro, daí cruza a corda, faz balanços, torções e voltas, o tempo todo eu mal consigo ver a corda, tamanha a velocidade que ele dá, a corda batendo no chão de forma ritmada.
Depois de tudo isso, ele ainda faz sombra ou vai para o ringue com um sparring, e se esse parceiro se desgasta antes do que ele – como hoje –, Chris volta para os sacos pesados ou para os sacos menores de couro e acaba ensopado.
– Ele gosta de se acabar – explica Taylor enquanto assistimos. – Se ainda puder dar um soco no final do dia, vai acabar pulando no pescoço do treinador porque ele não o treinou o suficiente.
É preciso mais uma hora para ele ir mais devagar, e quando o treinador assobia me chamando, eu é que estou morta de cansaço de tanto estímulo visual ao assistir Christian Grey treinando. Cada movimento que ele faz é tão agressivamente primal que se torna sexual para mim.
Mesmo num moletom e camiseta, não há como deixar de notar os músculos do peito por baixo do algodão úmido, e a maneira como sua calça de moletom pende bem abaixo de seus quadris estreitos faz com que meus seios fiquem tão pesados e doloridos que, juro por Deus, não consigo imaginar como eles ficarão se um dia eu amamentar.
Sufocando um arrepio quente, faço as minhas pernas se moverem e piso nos tapetes onde Christian está de pé, esperando por mim, já sem camisa. Riachos de suor grudam no torso, e sei que ele está perfeitamente aquecido e que seus músculos foram treinados à exaustão. Não há mais glicogênio muscular armazenado, sua glicose está baixa, e ele estará tão quente que vai ser como um pretzel quente quando eu o manobrar. A mera possibilidade de fazer isso me deixa igualmente quente. É um sonho meu, dedicar minha vida a esse trabalho, mas é algo tão tátil que, com este homem, se torna um grande desafio. Não só porque seus músculos são tão fortes em relação aos meus, mas porque mal posso
estabelecer um contato com sua pele bronzeada sem ficar tonta. Todos os meus poros saltam atentos e aguçados para saber qual parte de meu corpo está tocando o dele. E eu realmente odeio essa perda de controle em mim.
Agora observo seus músculos se incharem enquanto se enxuga e esfrega a toalha pelo cabelo molhado, deixando-o ainda mais sexy e espetado. Também estou usando tênis e uma roupa de corrida apertada para poder me mover mais facilmente sobre ele, e aqueles olhos azuis impressionantes pulam em cima de mim quando me aproximo.
Ele está ofegante, sem sorrir, então cai sobre um banco, enquanto eu dou a volta e começo com ele, por trás.
Chris geme quando passo os meus dedos ao redor dos ombros e começo a mexer fundo. Faíscas de emoção me atacam abaixo da barriga quando travo contato, mas tento sufocar todas as minhas reações e foco em afrouxar seu pescoço, seus músculos tríceps e bíceps. Empurro seus peitorais, seu abdômen, tentando não responder como uma mulher a cada aperto de seus músculos sob meus dedos, aquele incrível bronzeado de sua pele sob meu toque.
Trabalhamos com todas as juntas, puxando tudo para ficar solto, meus movimentos ocasionalmente fazendo-o ronronar baixo. Meus músculos sexuais se apertam e eu tento relaxá-los, mas cada vez que ele geme, eles se fecham e se apertam com mais força.
Também me dá ódio quando eles fazem isso.
Parece que a arte de relaxar este homem me excita à décima potência.
Mas pelo menos eu não estou mais desempregada.
Respirando lenta e profundamente, gasto mais tempo esfregando os deltoides, a parte mais redonda do ombro. Estico e enrolo com os dedos, e depois sigo para o supraespinhal, um pequeno músculo na face superior da escápula, o que estava mais machucado dos quatro músculos por ali.
Ele ainda está ofegante quando termino, só que agora eu também estou.
O treinador assobia.
– Tudo bem, pro chuveiro. Vejo você amanhã às seis horas e pronto pra lutar. Agora vá comer. Coma uma vaca inteira.
Christian me puxa do chão, onde eu tinha trabalhado suas costas, com os olhos azuis brilhando ao apertar meus dedos um segundo a mais do que eu esperava.
– Nada de ficar em cima de mim ainda?
Demorei um momento para lembrar a nossa conversa do avião, e sorri.

– Ainda não. Mas não se preocupe. Se você continuar treinando desse jeito, nós vamos chegar lá antes que você perceba.
Ele ri e atira uma toalha em volta do pescoço enquanto se dirige para os chuveiros, e horas mais tarde descubro que ele praticamente deve ter caído morto ao ir dormir, após o esforço que fez. Eu, por outro lado, fiquei acordada, sem sono.
Já tinha apertado meus tríceps três vezes desde a nossa chegada, e decidido que não sou gorda, e mesmo assim, ainda me pergunto o que significa hmm.
Penso no avião e em sua mão sobre os meus tríceps, seus olhos azuis no meu rosto e a maneira como seu olhar me avaliou quando caminhei até ele para massagear os músculos. Penso no jeito como tem me provocado e se divertido comigo nestes últimos três dias, e só não entendo por que tudo isso me faz contorcer por dentro e sentir pequenos arrepios quentes ao meu redor.
Minhas glândulas suprarrenais vão explodir se continuar assim.
Tento pensar em outra coisa, mas minhas pernas estão inquietas debaixo dos lençóis, e a necessidade de sair e correr me devora. Gostaria de poder correr com velocidade, sentir as endorfinas em vez dessas picadas em meus nervos que me roem o cérebro, essa necessidade estranha que floresce dentro de mim quando vejo Christian Grey. Mesmo quando neguei o fato a Kate, eu tinha muita certeza de que ele me desejava naquela primeira noite em Seattle, só não sei o que aconteceu que me fez, em vez de ser desejada, ser contratada por ele...
Mas era o que eu queria, não era? Um emprego.
Só que o preço a pagar por meu novo trabalho é um pouco de tortura sexual. Grande coisa. Tenho apenas que controlá-lo melhor amanhã. Com essa nova resolução, pego meu iPod da mesa de cabeceira e coloco música para tocar, me forçando a ouvir qualquer uma, menos aquelas que ele tocou para mim.

4 comentários:

  1. e bom demais os capitulos aqui não sei se é besteira minha mais parecem maiores mais completos incriveis parabéns

    ResponderExcluir
  2. A tensão sexual entre eles está até palpável

    ResponderExcluir
  3. que tensão....a insônia vai ser longa.....rsrsrsrs

    ResponderExcluir
  4. Ele treinou muito para ter ela tocando nele😃😃😃❤️❤️❤️

    ResponderExcluir
:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd



Topo