Capítulo 2
INESPERADO
Ana
Ele está prestes a subir no ringue, seu nome já ecoa através do
microfone, e a multidão vai à loucura.
– Mais uma vez, senhoras e senhores, o Arrebentador!
Ainda não estou recuperada de vê-lo tão de perto, e meu sangue já carrega todos
os tipos de coisinhas estranhas, quentes e borbulhantes. No instante em que ele
vem trotando pelo amplo corredor entre as arquibancadas, usando aquele roupão
vermelho brilhante com capuz, minha pulsação acelera, minha barriga se aperta e
fico com a vontade terrível e desesperada de fugir de volta pra minha casa.
O cara é simplesmente demais. Muito masculino. Muita masculinidade e desejo
animal juntos. Ele é supersexy e todas as mulheres ao meu redor estão gritando
a plenos pulmões o quanto querem lambê-lo!
Christian sobe no ringue e vai para o seu canto. Ele puxa fora seu roupão,
expondo todos os músculos flexionados, e o entrega a um jovem moreno que parece
ajudar o treinador loiro.
– E agora, apresento... Marreta!
Marreta se junta a ele no ringue, e Christian sorri preguiçosamente para si
mesmo. Seu olhar desliza diretamente para mim e percebo que ele sabe o lugar
exato onde estou sentada nesta noite. Ainda sorrindo, ele enfia um dedo no ar em
direção a Marreta e depois aponta para mim como se dissesse: “Isto é para
você”.
Meu estômago cai.
– Merda, ele está me matando. Por que diabos ele faz isso? Ele é tão foda sendo
macho alfa que não posso suportar mais!
– Kate, controle-se! – sussurro para ela, e então me ajeito na cadeira, porque
ele está me matando também. Eu não sei o que ele quer de mim, mas estou
angustiada porque nunca esperava que eu também quisesse algo muito sexual e
muito pessoal dele.
Aquela embaraçosa lembrança de ficar perto dele poucos minutos atrás se espalha
por mim, mas a campainha no ringue toca e me arranca do devaneio. Os lutadores
parecem começar de igual para igual, e Chris finta para um lado enquanto
Marreta balança estupidamente, seguindo o movimento simulado. Uma vez que o
flanco de Marreta parece estar desprotegido, Christian vem pra ele a partir da
esquerda, dando jabs nas costelas.
Os dois se afastam e Chris se comporta de forma arrogante, fintando e irritando
o oponente. Ele se vira para mim, aponta para Marreta, então para mim novamente
antes de bater com tanta força que o sujeito bate na corda atrás dele e volta
para a frente, cai de joelhos, e balança a cabeça para se levantar novamente.
Os músculos do meu sexo se apertam cada vez que ele bate no adversário, e meu
coração se aperta cada vez que o adversário retorna o golpe.
Durante a noite, ele passa por vários lutadores exatamente dessa forma. Toda
vez que é declarado vencedor, olha para mim com aquele sorriso de satisfação,
como se me quisesse fazer saber que ele é o homem dominante por aqui.
Meu corpo inteiro treme ao assistir ao seu corpo se mover, e sinto-me incapaz
de parar de fantasiar. Imagino seus quadris rolando em cima de mim, seu corpo
no interior do meu, essas mãos enormes me tocando, carne com carne. Durante os últimos
assaltos, ele traz um olhar atento sobre o rosto, e seu peito se ergue com
esforço e brilha com o suor.
De repente, eu nunca quis tanto uma coisa na minha vida.
Eu quero enlouquecer. Pulando numa cama elástica. Quero saltar e correr de
novo, mesmo que apenas em um sentido literal. Quero todos aqueles encontros que
nunca tive, porque estava treinando para algo que nunca aconteceu.
Aqueles passeios que nunca fiz por medo de quebrar um osso que eventualmente
quebrou de qualquer maneira. Nunca bebendo. Mantendo as minhas notas altas para
que eu pudesse fazer trilha. Christian Grey é tudo o que eu nunca, jamais fiz,
e tenho um preservativo enfiado na minha bolsa e de repente sei exatamente
porque o coloquei lá. Esse cara é um lutador. Eu quero tocar esse belo peito e
quero beijar aqueles lábios. Quero ter aquelas mãos em cima de mim.
Quando eu sentir aquelas mãos em mim, provavelmente vou gozar no segundo em que
ele enfiar lá.
Essa é a mais intensa preliminar que jamais senti, e de repente quero que isso
seja mais do que um jogo. Quero que aconteça hoje.
Quando ele vence pela décima e última vez, sinto seus olhos em mim de novo, e
só consigo ficar olhando pra ele, desejando que saiba o que desejo dele. Ele
sorri para mim, todo suado e arrogante com os olhos azuis brilhando e as covinhas
aparecendo. Agarrando a corda em cima do ringue, Chris facilmente joga seu
corpo sobre ela e pousa graciosamente no corredor diante de mim.
Kate congela ao meu lado quando o lindamente esculpido e reluzente corpo
bronzeado de Chris se aproxima de nós.
Não há dúvida a respeito de para onde ele se dirige.
Segurando minha respiração até que meus pulmões pareçam que vão
explodir, fico de pé com as pernas bambas, porque realmente não sei mais o que
fazer. Os rugidos da multidão ecoam e as mulheres atrás de mim começam a
gritar.
“– Afogue ele de beijos, mulher!”
“– Você não merece ele, sua vadia!”
“– Vai lá, garota!”
Ele pisca suas covinhas pra mim, e eu continuo à espera de suas mãos enquanto
ele se inclina. Quase posso sentir a maneira como aquelas mãos pousaram em mim
da última vez, grandes, estranhas e um pouco maravilhosas quando praticamente
engoliram meu rosto. Já estou morrendo. Morrendo de desejo. Com imprudência.
Com antecipação.
Ele inclina a cabeça escura para sussurrar em meus ouvidos, e a única coisa de
seu corpo tocando o meu é sua respiração, banhando minha pele com o calor
enquanto sua voz rouca troveja:
– Sente e fique quieta. Vou mandar alguém buscar você.
Ele sorri e se afasta, enquanto a multidão continua gritando, e então sobe no
ringue, deixando-me de olhos arregalados depois que se vai. Foi graças a uma
mulher ao meu lado toda agitada, encostando-se em mim excitada, que saí do
torpor:
– Ohmeudeus, ohmeudeus, ohmeudeusdeusdeusdeus, o cotovelo dele esfregou no meu
braço. O cotovelo dele esfregou no meu braço!
– O ARREBENTADOR, PESSOAL! – berrou o locutor.
Meus joelhos amolecem e caio na cadeira, sem peso, como se fosse chantilly,
segurando minhas mãos pra tentar fazê-las parar de tremer. Meu cérebro está tão
derretido que nem consigo pensar em nada além do ponto em que ele desceu do
ringue e sussurrou perto do meu ouvido, com sua voz terrivelmente sexy, que ele
estava mandando alguém para me buscar. Só lembrar disso já faz meus dedos se
enrolarem. Kate me encara sem fala, e Pandora e José olham pra mim como se eu
fosse um ser sagrado, que acaba de fazer um animal sagrado se ajoelhar diante
de si.
– Que porra ele te falou? – diz José.
– Jesus, Maria e José – diz Kate, gritando e me abraçando. – Ana, esse cara
está caído por você.
A mulher ao meu lado toca meu ombro com a mão trêmula.
– Você o conhece?
Eu balanço minha cabeça, sem nem mesmo saber o que responder. Tudo o que sei é
que desde ontem até agora, não houve um segundo em que não tenha pensado nele.
Tudo o que sei é que odeio e amo o jeito que ele faz com que eu me sinta, e que
o jeito que ele olha pra mim me enche de desejo.
– Senhorita Steele – diz a voz, e giro a cabeça olhando para os dois homens de
preto parados entre mim e o ringue.
Ambos são altos e magros, um é loiro e o outro tem cabelos negros lisos.
– Meu nome é Taylor, assistente pessoal do Sr. Grey – diz o loiro. – Este é Sawyer,
o segundo
treinador. Se a senhorita nos acompanhar, por favor, o Sr. Grey quer lhe falar
em seu quarto de hotel.
De início, nem consigo registrar quem é o Sr. Grey. Então a compreensão
preenche meu cérebro e um relâmpago corre através de mim.
Ele quer você em seu quarto de hotel. Você
quer esse homem? Você quer fazer isso?
Uma parte de mim já está transando com esse
homem de dez maneiras até o dia seguinte, em minha mente, enquanto a outra parte
não vai sair desta cadeira estúpida.
– Seus amigos podem vir com a gente – acrescenta o homem moreno com uma voz
suave, e ele sinaliza para o trio atordoado.
Estou aliviada. Acho. Nossa, eu nem sei o que sinto.
– Ana, vamos lá, é Christian Grey! – Kate me puxa com força e me impulsiona a
seguir os homens, e minha mente começa a trabalhar em velocidade máxima, porque
não sei o que vou fazer quando ver Chris. Meu coração está bombeando adrenalina
como um louco enquanto somos levados pra fora do clube da luta, para o hotel do
outro lado da rua e, em seguida, até o elevador subindo à cobertura.
Um pico de nervosismo ondula por mim quando o elevador chega ao último andar, e
eu me sinto exatamente do jeito que costumava sentir quando competia. Só
imaginar o corpo desse homem penetrando o meu tem sido como andar numa montanha-russa,
e de repente vejo que estou perto do clímax porque isso pode ser uma realidade.
Meu estômago aperta a partir do pensamento de
como pode ser emocionante a descida. Noitada amorosa, aqui vou eu...
– Por favor, me diga que você não vai transar com esse cara – diz José, o rosto
amassado de preocupação, enquanto as portas do elevador rolam para se abrir. –
Isso não é você, Ana. Você é muito mais responsável do que isso.
Sou?
Sou mesmo?
Porque hoje eu me sinto louca. Louca de tesão e de adrenalina, e tudo por causa
de duas covinhas sensuais.
– Eu só vou falar com ele – respondo a meu amigo, mas ainda não tenho certeza
do que estou fazendo.
Nós seguimos os dois homens para a primeira parte da enorme suíte.
– Seus amigos podem esperar aqui – diz Sawyer, apontando para o
balcão de granito preto gigantesco. – Por favor, sirvam-se de uma bebida.
Enquanto meus amigos se dirigem para as brilhantes garrafas de álcool, um
gritinho inconfundível escapa de Kate, e Taylor faz um gesto para que eu o
siga. Atravessamos a suíte e nos dirigimos para o quarto principal, e eu o
avisto sentado no banco ao pé da cama. Seu cabelo está molhado, e ele segura um
saco de gel na mandíbula. O visual de um macho primal cuidando de uma ferida
depois de ter quebrado outros homens repetidas vezes com seus punhos é algo incrivelmente
sexy para mim.
Duas mulheres asiáticas se ajoelham na cama atrás dele, cada uma delas
esfregando um ombro. Uma toalha branca está enrolada em torno de seu quadril, e
fios de água ainda se prendem à pele dele. Três garrafas vazias de Gatorade foram
atiradas ao chão, e ele tem outra em sua mão. Ele joga o pacote de gel sobre a
mesa e bebe o último Gatorade.
Azul como seus olhos, o líquido escoa em um gole, então o frasco vazio é jogado
de lado.
Estou hipnotizada enquanto seus músculos rasgados se apertam e relaxam sob os
dedos das mulheres. Sei que a massagem é normal após o exercício intenso, mas o
que eu não sei, e não consigo entender, é como vê-lo recebendo uma massagem me
afeta assim.
Conheço o corpo humano. E o reverencio. Esse foi o meu templo por seis anos,
quando decidi que uma nova carreira já estava na hora, quando percebi que não
poderia correr novamente. E agora, meus dedos coçam ao lado do meu corpo com
vontade de sondar seu corpo, pressioná-lo e soltá-lo, enfiar-me profundamente
em todos os seus músculos.
– Gostou da luta? – Ele me olha com um sorriso arrogante, com os olhos
brilhando, sabendo que eu adorei.
É uma coisa de amor e ódio pra mim, ver esse homem lutando. Mas eu simplesmente
não posso elogiá-lo depois de ouvir quinhentas pessoas gritando o quanto ele é
bom, então apenas dou de ombros.
– Você deixou tudo mais interessante.
– Só isso?
– Sim.
Ele parece irritado quando empurra os ombros abruptamente para deter as
massagistas. Levanta-se e rola os ombros quadrados, então estala o pescoço para
um lado, depois o outro.
– Saiam.
As duas mulheres me oferecem um sorriso e saem do quarto, e no instante em que
estou sozinha com ele, minha respiração para.
A enormidade de estar aqui, em seu quarto de hotel, não se perde em mim, e fico
de repente ansiosa. Suas mãos bronzeadas, de dedos longos, descansam ociosas ao
lado do corpo, e um fluxo de desejo corre em mim ao imaginá-las deslizando
sobre minha pele.
Meu corpo pulsa, e com um esforço ergo meus olhos para seu rosto e percebo que
ele me olha em silêncio. Ele estala os dedos com uma mão, e depois faz o mesmo
com a outra. Parece agitado, como se não tivesse despendido toda a sua energia
batendo em meia dúzia de homens. Como se pudesse facilmente lutar mais alguns
assaltos.
– O cara que está com você – diz ele, flexionando os dedos abertos ao lado do
corpo como que para obter algum fluxo de sangue, seus olhos me observando. –
Ele é seu namorado?
Honestamente, não sei o que eu esperava ao vir aqui, mas pode ter sido algo nas
entrelinhas que me fez supor que seria levada diretamente para a cama. Estou
confusa e mais do que um pouco ansiosa. O que ele quer de mim? O que eu quero
dele?
– Não, ele é apenas um amigo – respondo.
Seus olhos descem para o dedo da aliança e sobem de novo.
– Sem marido?
Um estranho zumbido passa por minhas veias e vai direto pro cérebro, e acho que
estou meio tonta por causa do cheiro do óleo de massagem que foi esfregado
nele.
– Não, nenhum marido.
Ele me estuda por um longo tempo, mas não parece tomado pela luxúria como eu
estou, vergonhosamente, me sentindo. Ele apenas está me avaliando com um meio
sorriso, e parece estar genuinamente interessado no que estou dizendo.
– Você foi estagiária em uma clínica particular de reabilitação de jovens
atletas?
– Você me investigou?
– Na verdade, nós fizemos isso. – As duas vozes familiares dos homens que me
trouxeram se fazem ouvir, ao reentrarem no quarto. Taylor carrega uma pasta de
papel pardo e a entrega a Sawyer.
– Senhorita Steele – mais uma vez, Taylor, com o cabelo loiro e olhos claros
suaves, fala comigo. –
Tenho certeza de que você está se perguntando por que está aqui, por isso vamos
direto ao assunto. Estamos deixando a cidade em dois dias, e temo que não haja
tempo pra fazer as coisas de forma diferente. O Sr. Grey quer contratá-la.
Fico olhando por um instante, estupefata e sinceramente confusa como o diabo.
– O que exatamente vocês acham que eu faço? – uma carranca se
instala no meu rosto. – Eu não sou uma acompanhante.
Tanto Taylor quanto Sawyer desatam a rir, mas Christian fica assustadoramente
silencioso, lentamente se acomodando no banco.
– Você de fato sabe das coisas, senhorita Steele. Sim, eu admito, quando
estamos viajando, achamos conveniente manter uma ou várias amigas especiais do
Sr. Grey para, digamos assim, acomodar as suas necessidades, antes ou depois de
uma luta – explica Taylor, rindo.
Minha sobrancelha esquerda voa pra cima. De fato, estou perfeitamente ciente de
como essas coisas funcionam com os atletas.
Eu costumava competir e saber que, seja antes ou depois das atividades
esportivas, o sexo é uma maneira natural e até saudável de aliviar o stress e
auxiliar no desempenho. Perdi minha virgindade nas mesmas eliminatórias
olímpicas em que meu joelho foi destruído, e a perdi com um velocista que
estava quase tão nervoso ao competir quanto eu. Mas a forma como esses caras
falam das “necessidades” do Sr. Grey, de forma tão casual, me parece de repente
tão pessoal, que meu rosto começa a queimar de vergonha.
– Um homem como Christian tem necessidades muito particulares, como você pode
imaginar, senhorita Steele – Sawyer, o homem de cabelos escuros que se parece
com um surfista, continua: – Mas ele tem sido muito específico sobre o fato de
que não está mais interessado nas amigas que providenciamos a ele durante a
viagem. Ele quer se concentrar no que é importante e, em vez dessas amigas,
quer que você trabalhe para ele.
Minhas entranhas se apertam quando olho para Sawyer, depois para Taylor e, em
seguida, para Christian, cuja mandíbula parece ainda mais quadrada do que eu me
lembrava, como se fosse feita da peça de granito mais valiosa e mais linda que
o mundo jamais tivesse encontrado.
Não há nenhuma forma de eu saber o que ele está pensando, mas embora não esteja
mais sorrindo, seus olhos permanecem acesos de malícia.
Seu rosto está ligeiramente inchado do lado esquerdo, e meu instinto de cuidar
deseja mesmo pegar o pacote de gel e colocá-lo de volta nesse lugar. Droga, em
minha mente, eu já coloquei pomada sobre a cicatriz vermelha no meio de seu lábio
inferior. Estou tão abalada com esses pensamentos que percebo que não posso
confiar em mim mesma na presença de alguém tão poderosamente atraente quanto
ele. Ainda estou acesa demais apenas por saber que estou no mesmo quarto que
ele.
Taylor folheia as pastas.
– Você estagiou em reabilitação esportiva para os alunos da Academia Militar de
Seattle, e vemos que você se formou há apenas duas semanas. Estamos preparados
pra contratar os seus serviços que irão cobrir o período das oito cidades que
ainda temos em turnê e a manutenção do condicionamento do Sr. Grey para
competições futuras. Seremos muito generosos com seu salário. É algo de muito
prestígio cuidar de um atleta tão popular e isso deverá causar uma boa impressão
em qualquer currículo, podendo até permitir que a senhorita trabalhe por conta
própria se, no futuro, decidir ir embora – diz Taylor.
Vejo-me piscando várias vezes.
Estive ansiosamente me candidatando a empregos sem retorno, pelo menos até
agora. A escola onde estagiei me disse que eu poderia voltar quando as aulas
fossem retomadas em agosto, então pelo menos ainda tenho essa opção.
Isso seria, no entanto, daqui a muitos meses, e a inquietação de ter um diploma
e não fazer nada com ele está me comendo por dentro.
De repente, percebo que todos os olhos estão em mim, e estou particularmente
consciente dos olhos de Christian.
Em mim.
A ideia de trabalhar pra ele depois de já estar tendo relações sexuais com ele
em minha mente deixou-me um pouco enjoada.
– Tenho que pensar sobre isso. Realmente não estou procurando algo que me leve
pra longe de Seattle por muito tempo. – Olho para ele hesitante, e depois para
os outros dois homens. – Agora, se isso é tudo o que vocês queriam me dizer, é
melhor eu ir embora. Vou deixar o meu cartão em seu bar.
Giro o corpo para sair, mas a voz de comando de Christian me detém.
– Responda agora – diz ele.
– Como?
Quando eu me viro de novo, ele inclina a cabeça e sustenta o meu olhar, e o
brilho em seus olhos não é mais brincalhão.
– Eu lhe ofereci um emprego, e quero uma resposta.
O silêncio desce sobre o aposento. Ficamos encarando um ao outro, aquele
demônio de olhos azuis e eu, e esses olhares trocados são complicados. Não
consigo decidir se o olhar dele é apenas isso ou alguma coisa mais. Algo que
parece uma coisa viva, respirando dentro de mim, se inflama quando encaro seus
olhos, e vejo a maneira como ele me devolve o olhar com aqueles olhos dolorosamente
intensos.
Tudo bem, então. Que se ferre esse desejo estúpido. Eu preciso
muito mais de um trabalho...
– Eu vou trabalhar com você pelos três meses que ainda faltam da sua turnê se
incluir hospedagem, alimentação, transporte e me garantir referências pra
quando eu me candidatar ao meu próximo emprego, e me permitir promover o fato
de que trabalhei com você para meus futuros clientes.
Como ele apenas fica me olhando, giro o corpo novamente, supondo que ele vai
querer pensar sobre isso. Mas sua voz me detém outra vez.
– Tudo bem – diz ele assentindo, e minha cabeça começa a rodar em descrença.
Ele me contratou?
Eu consegui esse homem como meu primeiro emprego?
Lentamente, agarrando a toalha à cintura para evitar que se abra, Christian se
levanta e olha para seus homens.
– Mas eu quero isso no papel, que ela não vai sair até que a turnê termine.
Com os músculos salientes de uma forma que acho difícil não notar, ele enfia a
toalha no lugar e começa a chegar mais perto, e novamente tem aquele jeito
felino e predatório de abordar, seu sorriso confiante tornando-o duplamente perturbador.
É um sorriso que me diz que ele sabe que me perturba. Cara, ele me abala
mesmo... Estou observando um metro e noventa de puro músculo se movendo debaixo
de uma pele brilhante de óleo e aquele abdômen definido, que parece fisicamente
impossível, na verdade, mas como negá-lo quando ele está lá? Deus.
Meu coração começa a pular quando ele engole a minha mão em uma de suas mãos
enormes e dobra a cabeça para olhar diretamente para mim. Ele sussurra,
enquanto me prende em seu poderoso aperto, e seu toque lança um choque elétrico
através de meu corpo.
– Negócio fechado, Anastasia.
Acho que desmaiei.
Ele dá um passo pra trás, e seu sorriso brilha em mim, carregado com mil
megawatts, e então ele se vira para seus homens.
– Coloquem tudo no papel amanhã, e cuidem para que ela vá pra casa em
segurança.
***
Kate salta do bar no instante em que me vê, com os olhos
arregalados de curiosidade. Acho que a peguei
empurrando uma garrafa em miniatura de rum em sua bolsa.
– Já? Mas isso foi uma rapidinha? Eu pensei que o homem teria mais resistência
do que isso – diz ela, extremamente aborrecida por mim.
– Gente, o cara nocauteou dez outros caras do tamanho daqueles ursos pardos, é
claro que está esgotado – diz José, o único dos três sem uma bebida na mão.
– Pessoal, relaxem... Eu não transei com ele – balanço minha cabeça e quase
começo a rir da expressão desesperada no rosto de Kate. – Mas consegui um
emprego durante o verão.
– O quêêêê?
Nem consigo começar a relacionar os detalhes para os meus amigos antes que os
dois homens de Christian se coloquem a meu lado:
– Pronta, senhorita Steele?
– Ana, por favor. – Eu me sinto ridícula por ter sido chamada de “senhorita Steele”.
Meus amigos provavelmente não vão parar de me provocar com isso mais tarde. –
Olhe, eu sei mesmo me cuidar. Não há necessidade de ficarem me seguindo pra
todo lugar.
Sawyer joga a cabeça para trás, com o sorriso torto.
– Confie em mim, nem Taylor nem eu conseguiremos dormir esta noite se não
tivermos certeza de que você está em casa a salvo.
– Bem, olá então, acho que não fomos devidamente apresentados – diz Kate, voz
suave, os olhos brilhando em cima de Sawyer com pupilas dilatadas e tudo o
mais. Em seguida, ela passa a trabalhar encantadoramente em Taylor. – E quem
são vocês?
Gemendo, faço rapidamente as apresentações, e depois pego cada uma das meninas
pelos braços e vou logo para os elevadores e então para o carro de José, meu
coração ainda pulsando com violência em meu peito.
Elas estão ansiosas para saber sobre toda a “experiência”, exceto José, que
está carrancudo quando sobe ao volante.
– Que entrevista do caralho foi essa? Em uma porra de quarto de hotel?
– Nem me fale... – meu orgulho feminino está ferido porque, em algum momento,
eu me convenci de que o cara queria dormir comigo. E em vez disso, ele me
oferece um emprego? Não é ruim, mas totalmente inesperado, devo admitir.
Acho que estou com meus sensores fora de sintonia, e ele é provavelmente o
único culpado disso também.
– Eu me sinto tão importante ao ver que eles estão nos seguindo – é isso que Kate
nos informa minutos depois, e ela já logo levanta o
telefone e tira uma foto.
– O que você está fazendo? – Sim, eu perguntei a ela, mas não tenho certeza se
quero saber.
– Estou tuitando sobre isso.
– Lembre-me de nunca mais sair com você de novo – lamento, mas estou tão
inquieta que não suporto mais. Olhos azuis. Covinhas. Ombros de um metro de
largura. Pele bronzeada lisa, brilhante. Mas nada de sexo... Definitivamente
não deu para transar com ele agora.
– Qual é o lance desses caras? – Kate quer saber.
– Eu não sei. Sawyer, o moreno que você quer pegar, é o segundo treinador, e Taylor
é o assistente pessoal do Chris, acho.
– Eu quero pegar os dois, na verdade. Taylor é bonito, com aquele jeito de bom
menino, mas ele precisa de mais carne em seus ossos. E Sawyer parece um cara
bem alegre. Os dois são gostosos, beirando o tesão. Quantos anos você acha que eles
têm? Uns trinta?
Dou de ombros.
– Christian tem 26 anos – diz ela. – Eu acho que eles são um pouco mais velhos.
Chris é definitivamente mais jovem. Como você acha que eles se conheceram?
– Você é a única a par dos boatos, então por que está perguntando pra mim? Eu
não passo meus dias fuçando a vida das pessoas no Google. – Somente a dele.
Merda.
– Ana, conte-nos sobre o seu novo trabalho – diz José, do assento do motorista.
– Você não está pensando seriamente em ir viajar com um cara com a reputação
dele, está?
Levo um momento pra responder, porque ainda estou abismada por ter conseguido
um emprego, mesmo que seja apenas temporário.
Sempre me disseram, desde que eu era criança, que tinha nascido para correr.
Quando me arrebentei, passaram-se muitos dias – dias, não, meses – e eu me
sentia como se não tivesse fazendo progresso algum. Mas a reabilitação esportiva
curou-me de diversas maneiras e de um jeito que eu não conseguiria sozinha, e
agora, quanto mais penso nisso, mais entendo que adoraria ajudar um homem tão
agressivo como Christian, cujo corpo brutalmente espancado com certeza precisa
de carinhos e cuidados.
– Estou, José. Na verdade, se tudo correr bem e os termos do contrato não forem
loucos demais, já vou embora no domingo. Eu prometo a você que posso cuidar de
mim mesma, pergunte ao meu professor de autodefesa. Chutei a bunda dele várias
vezes. Vou viajar, o que será divertido, e posso ter a chance de me tornar uma
freelancer em reabilitação esportiva se conseguir boas referências. Se isso
acontecer, não vou mais precisar ficar passando por entrevistas de emprego.
– Esse cara pode derrubar um elefante, Ana. Será que você não viu? Pandora com
certeza o viu.
– Cara, não havia nada pra ver, a não ser ele mesmo. Esse cara pode derrubar a
porra de um trem carregado de elefantes – diz Pandora, do banco do passageiro.
Ela está ocupada em sugar seu cigarro eletrônico e soprar vapor para o ar, uma
vez que esta é a primeira semana que ela realmente parou com os cigarros de
verdade.
– Estou me perguntando aqui o que os caras atrás de nós vão fazer se pararmos
no drive-through do Jack in the Box, fizermos um pedido grande e dissermos que
eles é que vão pagar – diz Kate.
– Kate – falo, repreendendo –, quantas dessas você tomou? – Percebo que ela tem
uma pequena garrafa de vodca na mão e sou imediatamente capaz de deduzir que é
a que ela roubou do bar do Christian. Coloco a tampa de volta e enfio a
garrafinha na minha bolsa. – Trabalharei com esses caras por três meses, então,
por favor, comporte-se.
– Só pra ver o que eles fazem, menina, vamos lá – suplica Pandora.
Rindo, José vira à direita no drive-through e começa a encomendar um pouco de
tudo. Pego minha bolsa contendo o preservativo solitário e meu cartão de
crédito.
– Seu bobo! – digo, jogando a camisinha em cima dele. – Vocês são muito
infantis. Pare na janelinha que vou pagar e vocês vão comer tudo o que pediram!
Quando José para no drive-thru seguinte, do McDonald’s, estou soltando fumaça.
Faço com que esperem até pagar pelo pedido, e então saio do carro e vou até o
Escalade. Entrego dois McLanche Feliz com duas tortas de maçã pela janela do
motorista.
– Tome. Desculpe por isso. Eu disse que não era necessário me seguir. Parece
que estou andando por aí com crianças. Mas eu vou chegar em casa em segurança.
Por favor, voltem pro hotel.
– Isso não será possível – diz Taylor, atrás do volante, enquanto Sawyer
mergulha nas batatas fritas.
– Estas batatas fritas são as melhores – resmunga ele.
– Sim, obrigado, senhorita Steele – Taylor acrescenta, sua expressão
genuinamente agradável quando olha para mim com ar divertido.
– Ana. Por favor. – Eu olho pros meus amigos enquanto eles estão sentados no
carro com os rostos voltados em minha direção e suspiro.
– Então, vocês sempre seguem as instruções dele ao pé da letra?
– Ao pé da letra – Taylor sai do carro, caminha até o Altima de José, e abre a
porta de trás pra mim. O interior do carro fica em silêncio até que sou enfiada
dentro e finalmente estamos indo pra casa.
– Acho legal ele querer que você chegue em casa em segurança.
– Kate, neste momento você está achando até o McDonald ’s legal, coisa que você
odiou depois de assistir
Supersize Me e tinha banido pra sempre. Seu hálito está cheirando a vodca e a
Quarteirão com Queijo.
– Bem, Ana, se você tivesse tomado uma bebida comigo, você não seria capaz de
me cheirar. Não há mais desculpas. Acabou essa do “eu tenho competição amanhã”.
Você devia encher a cara e dar ao Christian todos os bebês que ele quiser.
– Ele quer gêmeos, mas eu já disse que quero esperar até o casamento em Vegas.
– Entrego pra ela um tablete de vitaminas B e C pra mascar. – Toma, chupa isso.
Sei que não é o que você quer, mas vai ajudar a eliminar o álcool de seu organismo
bem depressa.
– Obrigada, doutora. Vou sentir a sua falta. Mas já está mais que na hora da
pequena Alayna deixar de ser a única a se divertir. É uma droga o fato de sua
irmã ter uma vida sexual muito melhor do que a sua quando você é muito mais bonita,
Ana. Por favor, por favooooor, me prometa que vai me mandar SMS todos os dias.
Sorrindo, eu a trago pra mais perto e desejo que não estivesse tão bêbada,
então eu poderia realmente conversar com ela. Não tenho ideia do que fiz, mas
estou animada. Tudo o que eu sei com certeza é que não vou recuar desse acordo.
Meus pais vão ficar em êxtase ao ver que estou dando um novo impulso à minha
vida e numa nova direção, e ficarei também muito feliz quando conversar com
eles no próximo domingo de manhã, quando a resposta à saudação deles, que é
sempre “E então, alguma oferta de emprego?”, vai finalmente ser um “Sim”.
Tudo bem, isso é apenas por três meses, mas esse trabalho vai fazer maravilhas
para a minha carreira. Além disso, é bom ser desejada em um sentido
profissional, depois de toda a preparação.
– Pode deixar, Kate, todos os dias – respondo, ao ouvi-la mascando o chiclete.
– Quando ele beijar você, vai ter que mandar um SMS a cada segundo.
– Kate, ele me contratou como uma especialista. Não haverá beijo, é tudo
profissional.
– Foda-se o profissional – ela protesta.
– Isso aí, fique no profissional, Ana – adverte José. – Senão, paro o carro
agora e vou ter uma conversinha com esse cara.
– Ainda bem que você disse “ter uma conversa”, José, porque é tudo que um homem
como você pode de fato conseguir quando enfrenta Christian Grey – Pandora diz
antes de cair na gargalhada.
Eu sorrio, porque a imagem de José enfrentando Chris é mesmo engraçada. Uma
imagem de Chris brilha em minha mente, e eu o vejo como estava há pouco, me
encarando sem pedir desculpas, tão sexy quanto o sexo em si, e me pergunto como
vai ser quando tiver que colocar minhas mãos nele.
Meu trabalho é extremamente tátil. Não há nenhuma maneira de ajudar meus
clientes sem ter algum tipo de contato.
Eu já reabilitei meus alunos do ensino médio, tratando de lesões como tratei de
meu joelho, mas nunca toquei um homem como esse, que eu realmente desejasse.
Sempre que ele treinar, vai precisar de alongamento depois, e esse é o meu campo
de trabalho. Agora, meu único objetivo será garantir que Christian Grey
continue lutando como um campeão.
De repente, eu mal posso esperar para estar de
volta a uma equipe, mesmo estando a um lado diferente agora.
Quero mais.... 🔥🔥
ResponderExcluircocordo com a kate e jose todo preocupado amo demais essa historia aliais todas que você escreve mais essa e king são o meu xodo obrigada anjo
ResponderExcluirJá pode postar mais ➕ ➕ ➕
ResponderExcluirMuito boa esta história, queria mais😍
ResponderExcluirEita ele contratou ela pra trabalhar com ele
ResponderExcluirMuito bom ,que comece o trabalho e Ana vai e pegar fogo
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