LPA Capítulo 27

em domingo, 6 de fevereiro de 2022

 Capítulo 27





A LUTA FINAL

Christian

E agoraaaaaa, senhoras e senhores, o momento que todos estavam esperando. Nosso atual campeão, o primeiro e único Christian ARREBENTADOR Grey!
Não estou conectado à multidão e nem à forma como meu corpo está preparado para a
luta. Caminho até o ringue e só consigo ver Ana com esse mesmo tecido envolvendo
sua pele. Ele roça em mim. Eu me sinto calmo. Lembro-me que ela é a razão para eu ser
derrubado na lona esta noite.
Posso sentir o seu olhar em mim enquanto pulo para dentro do ringue e deixo Sawyer
tirar meu roupão.
Este é o momento em que sempre olho para ela.
Meu estômago queima determinado. Se eu olhar para ela, haverá um sorriso
preocupado em seu rosto. Ela vai me enfraquecer. Vai fazer com que eu tenha vontade
de lutar. Merda.
A multidão canta meu nome em uníssono, e eu odeio saber que Ana vai ter que
assistir a isso. Mas ela quer a irmã de volta. Não vou deixá-la ficar com Scorpion.
O apresentador diz:
E agora, senhoras e senhores, o pesadelo que todos temiam que criasse vida está aqui. Cuidado com Benny, o Black Scorpioooooooon!
E lá vem ele, o filho da puta. Andando bem devagar para testar a minha paciência,
com os dois dedos do meio esticados para mim e para o público.
Ele está de mau humor porque sabe que eu não vou reagir hoje.
Espero até que ele suba no ringue, revivendo a forma como enfiei uma caneta na maldita
tatuagem dele. Penso em Ana beijando-o e meu sangue ferve de novo.
Ele pula para dentro do ringue e tiram sua capa preta, e eu fico feliz em ver que o filho
da puta está com uma aparência péssima. Ele levou pontos onde eu rasguei sua
tatuagem, e seus olhos amarelos estão fixos em mim, e eu posso ver a satisfação que ele
sente porque vai me dar uma surra em público.
O gongo toca.
Por um segundo, instintivamente, sinto meu corpo começar a saltar no lugar: levanto a
guarda, me aproximo dele, mas me seguro antes de fazer a finta e abro a guarda. Ele dá
socos nas costelas, depois um duplo na mandíbula. Balanço meu corpo para me
recuperar, então me reaproximo.
Estou tão ligado, que a sensação é até boa.
Scorpion me acerta na barriga, depois segue com um uppercut, eu endireito a minha
cabeça. Não vou ser nocauteado por esses golpes de bichinha. Se eu cair na lona, será
porque não aguento mais.
Levo três socos no corpo de novo, peito, costelas, e meu corpo, minha memória

muscular, está brigando comigo. Estou indo contra todos os meus instintos. Mas eu digo
para mim mesmo que eu posso não ter o campeonato, mas eu a terei.
Posso me ver e ver a forma como ela vai me olhar quando eu trouxer a sua irmã. Ela
terá a irmãzinha de volta e saberá, de uma vez por todas, que eu faço qualquer coisa por
ela.
Scorpion atinge minha mandíbula, depois meus joelhos. O público não gosta. Eu me
levanto, um pouco tonto.
– Booooo! Boooo!
Mate o desgraçado, Arrebentador! Mate-o!

Continuamos lutando. Soco após soco, eu me concentro em não me proteger, em não
bater.
Continuamos assalto após assalto, e eu estou apenas aceitando. Sinto meus sistemas
apagando de alguma forma. Meus músculos latejando, minha pele esfolada, meus ossos
fracos. Meu cérebro está ficando lento, meus pulmões se esforçando para oxigenar cada
parte ferida de mim. Eu nem sei onde dói, meu corpo está produzindo toneladas de
substâncias anestésicas, e eu fico grato por isso.
Enxugo a testa e continuo respirando, meu braço fica manchado de sangue dos meus
supercílios, meus lábios, minhas têmporas. Caio no chão de novo, e odeio o fato de este
filho da puta não conseguir me deixar inconsciente nem quando quero que ele faça isso.
Levanto de novo e cuspo nele, enfurecendo o cretino para que ele acabe comigo logo.
Chris, lute com ele! – Escuto a voz inconfundível de Ana e isso me congela. –
CHRIS, LUTE COM ELE! POR MIM! POR MIM!
Eu escuto. Meu deus, ela nunca gritou para mim assim. Isso acaba comigo e, por um
breve segundo, quero derrubar Scorpion com a força que ainda me resta. Eu sou o mais
forte, o mais rápido, e ela sabe que eu não caio. Eu sou sua alma gêmea e quero que ela
tenha orgulho de mim. Os jabs começam, e eu só consigo escutar as súplicas dela para
que eu lute. Por ela. E pela primeira vez na minha vida, eu me sinto totalmente
humilhado. Será que ela não consegue ver que eu estou permitindo isso?
Esta é pra você, pimentinha.
Minha respiração falha, meu corpo se contrai para aguentar a dor. Meus pensamentos
se espalham e minha cabeça gira.
Ele se concentra na minha cabeça agora, e o meu cérebro gira dentro do crânio como
gelatina. Escuto seu punho atingir minha mandíbula até minha cabeça cair para trás no
último crack!
Manter o equilíbrio é impossível.
Caio no chão.
Sinto a lona embaixo de mim. Quase gosto. A única coisa sólida enquanto meu mundo
gira. Algo como um aviso de que eu posso cair e que o maldito chão vai estar ali para me
confortar.
Uma poça de sangue se forma embaixo de mim. Meus olhos estão quase fechados e

inchados. Parece que as minhas costelas afundaram nos meus pulmões. Abro uma mão
na lona, depois a outra, e escuto a contagem, tento me levantar e, por um momento,
não sei se consigo.
Eu o odeio. Eu o odeio com paixão. A única coisa que consigo pensar é em mim de pé
aqui, olhando para aqueles olhos amarelos e aquele rosto, e acabando com ele na
próxima vez que encará-lo.
Eu me levanto e cuspo sangue, e assim que fico de pé, levo um gancho de esquerda na
lateral do meu corpo que me faz girar.
Eu cambaleio e quase caio de novo, preciso balançar a cabeça. Tudo está rodando. E
eu só consigo pensar nos braços de Ana, e como será bom quando ela me abraçar
mais tarde. Vou aninhá-la e deixar que ela coloque gelo em mim e faça a sua magia, e
ela vai me amar por devolver sua irmã, porque eu achei que quisesse o campeonato, mas
agora não.
Agora tudo que quero é a mulher que eu amo. Que ela me ame. Como ninguém nunca
me amou antes em toda a minha vida. E eu lutarei mais por ela do que por qualquer
outro.
Escuto Sawyer e o treinador gritarem comigo repetidas vezes:
A porra da guarda! Que merda tem de errado com você?
As pessoas gritam em toda a arena. Estão ficando cada vez mais sedentos de sangue,
mas hoje eu só posso lhes oferecer o meu.
– MATE-O, ARREBENTADOR! MATE-O!
O próximo golpe espalha sangue pela lona, e as pessoas gritam ainda mais alto:
CHRIS-TI-AN! CHRIS-TI-AN!
Meu coração nunca bateu tão forte. As partes do meu corpo não compreendem por que
eu não estou fazendo uso delas. A minha luta esta noite é comigo mesmo, com cada
maldito instinto dentro de mim, meus músculos, que querem trabalhar, meus nervos, que
reflexivamente querem me proteger. Mas não posso mais mexer meu braço direito. Ele
está caído ao lado do meu corpo, e nem dói.
Chris, Chris, CHRIS! – as pessoas continuam gritando.
Scorpion uiva de raiva. Eu tenho certeza que nunca houve um momento em sua vida
que alguém o apoiasse.
Cuspo na cara dele.
– Da próxima vez que nos vermos, vou acabar com você – ameaço.
Ele puxa o braço para trás com um gemido, e eu espero o golpe. Ele chega e eu caio.
Minha visão turva e fica preta.
* * *
Escuto música na escuridão. Escuto as músicas que Ana tocou para mim, músicas
que eu toquei para ela. Meu corpo dói e eu tento me mexer, mas não consigo sair da
escuridão. Sinto mãos na minha mandíbula, e escuto sons perto dos meus ouvidos.

Pequenos soluços. Sinto seus beijos nas minhas têmporas, seus dedos na minha cabeça.
Eu escuto a música e perco… perco-a… Não, eu nunca vou perdê-la. Eu faria qualquer
coisa por ela. Ela precisa saber que eu faria qualquer coisa por ela.
Luzes brilham nas minhas retinas. Meu corpo está pesado e dormente. Meu peito dói.
Abro mais meus olhos e olho em volta.
Hospital. Sawyer.
E Ana?
O pânico toma conta de mim. Tento falar e alguma coisa está presa na minha
garganta, então dou uma pigarreada.
Sawyer levanta a cabeça de onde está sentado.
– Você acordou, graças a Deus! – Ele se aproxima de mim. – Deus do céu, Christian,
estou tão feliz que você sobreviveu assim eu mesmo posso matar você. Você deu…
Eu seguro o braço dele e aperto com força, ele para, e um som emerge da minha
garganta, através daquele tubo estúpido que enfiaram em mim.
– Você quer saber cadê a Ana? – pergunta Sawyer quando olha dentro dos meus
olhos.
Eu assinto e solto um rugido de novo. O pânico toma conta de mim. Ela viu meu
fracasso no ringue, e eu preciso saber se ela está bem.
Quando Sawyer vai pegá-la, eu conto os segundos com os meus batimentos cardíacos.
Ela entra e para quando nos olhamos. Nunca senti o que estou sentindo agora. Cada
célula do meu corpo pula, mas ao mesmo tempo, estou imobilizado nesta cama,
tremendo ao vê-la. Ela está ali, olhando para mim, amarrotada e descabelada, o rosto
pálido, e ela nunca me pareceu tão linda. Meu corpo fica tenso com o desejo tomando
conta de mim. Eu quero dizer para ela: Eu te amo, pimentinha. Eu te amo pra caralho…
Quero que ela traga meu iPod para que eu possa tocar músicas para ela. “I Love You”
de novo. Ou outra. Merda, nada consegue capturar o sentimento de amá-la.
Ela começa a tremer, e meus olhos começam a arder quando escuto os soluços que
começam a sacudi-la. Eles vêm de algum lugar tão fundo, que a voz dela parece
totalmente estranha, e faz doer em lugares que eu nem sabia que existiam.
Como v-você se atreve a me f-fazer assistir à-quilo...? C-como pôde ficar lá e me fazer a-assistir àquele h-homem destruir vo-você! Seus ossos! Sua cara! V-você era... meu! M-meu... Pra... Segurar... C-como se a-atreve a se quebrar?! C-como se a-atreve a me quebrar?!

Meus olhos estão pegando fogo e eu não consigo me mexer, só consigo ficar aqui
deitado enquanto a dor dela e a minha me cortam por dentro.
T-tudo o que eu queria era ajudar minha irmã e não lhe c-causar p-problemas. Eu q-queria também proteger, cuidar de você, e-estar com você. Eu queria f-ficar com você até que enjoasse de mim e não precisasse mais de mim. Eu queria que você me amasse porque eu... Eu... Oh, Deus, mas você... Eu... Eu não posso mais. É difícil vê-lo lutar, mas vê-lo se suicidar é... Eu não vou fazer isso, Christian!
Eu solto um som e tento me mover, mesmo meus braços estando engessados, odiando
o peso do meu corpo. Meu corpo rápido e treinado me decepciona, e ele está tão
quebrado quanto eu de repente me sinto.
Lágrimas escorrem pelo rosto dela e, de repente, ela se aproxima de mim e toca a
minha mão livre e se inclina e beija meus dedos, suas lágrimas caindo nas minhas
cicatrizes.
Eu quero tanto tocá-la, que forço meu gesso a se mover para que eu possa colocar a
mão atrás de sua cabeça e acariciar seu cabelo.
Ela enxuga o rosto e me fita através de olhos cheios de lágrimas, e eu silenciosamente
desejo que ela compreenda que eu posso aguentar isso, que eu posso aguentar uma
surra.
Mas, de repente, ela se levanta para ir embora.
Seguro a mão dela e aperto o mais forte que posso sem quebrar seus pequenos ossos.
Ela solta a mão, segura o meu rosto e dá um beijo na minha testa. Sinto todo seu
sofrimento explodir dentro de mim, e ela está me matando. Um som sai rasgando pela
minha garganta quando agarro o tubo e tento arrancá-lo, e a máquina enlouquece, assim
como Ana.
– Chris, não, não! – suplica ela, mas eu não vou aceitar isso, preciso tirar essa merda
de mim. Nunca fui um homem dado a palavras, e não vou deixar essa merda na minha
garganta quando tenho algo a dizer para ela, mas Ana entra em pânico e grita para
chamar uma enfermeira.
– Enfermeira! Por favor!
Uma enfermeira entra correndo no quarto, alguma coisa entra pelo tubo intravenoso
para as minhas veias e eu fico na mesma hora pesado como um búfalo, e minha cabeça
começa a se fechar à minha volta. Ana me fita com um rosto que eu nunca vou
esquecer. Acho que eu a quebrei. Ela é forte, é minha alma gêmea, ela é naturalmente
forte o suficiente para me aguentar – não.
Ninguém consegue me aguentar.
Vejo o olhar dela, o mesmo olhar que eu imagino que todos têm quando percebem que
eu não tenho jeito. Que sou uma bagunça. Mas, então, ela sorri para mim, e é um sorriso
que fica gravado na minha mente. Eu me agarro a ele quando começo a afundar,
tentando pensar em que música vou tocar para ela quando acordar…


3 comentários:

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