Capítulo 6
CORRIDA
Ana
– Chris! Chamem Chris já! CHRISTIAAAAAN!
O grupo de mulheres nos bancos atrás de mim grita a plenos pulmões.
Daí você pode entender como é complicado demais ignorar esse homem quando todos
à minha volta estão chamando por ele, especialmente quando o meu corpo está
vivo com a adrenalina por causa da luta que está prestes a começar.
É uma sensação deliciosamente familiar, na verdade, essa que ferve em mim
quando vou me sentar entre os espectadores no Underground Atlanta, esperando Christian
sair para o ringue. Sinto que sou eu quem vai competir, e meu corpo está
perfeitamente pronto. Meu sangue corre quente e líquido dentro de mim, minhas
glândulas suprarrenais bombeiam os hormônios certos e minha mente parece tão
clara quanto um cristal limpo recentemente. Minhas pernas estão imóveis debaixo
do assento, assim como as mãos, mas isso é apenas um estratagema. O silêncio da
preparação.
Por fora tudo é calmo e dentro, há uma lareira crepitante. Este é o minuto em
que tudo fica em silêncio e se recolhe profundamente para que, quando for a
hora de explodir, tudo seja feito com a precisão concentrada que a sua energia desencadeia,
em uma explosão perfeitamente planejada.
Mesmo agora, me lembro da minha posição inicial perfeita nos blocos de partida:
a forma como todos os meus sentidos pareciam se aprimorar a cada disparo do
início da corrida, quando tudo, absolutamente tudo acorda com aquele som, e
você vai da paralisação para a aceleração de seu coração em uma fração de
segundo.
Agora parece que tudo o que eu estou esperando ouvir é o nome dele que está
sendo anunciado, e quando finalmente escuto “CHRISTIAN GREY, ARREBENTADOR!”, há
uma nova onda me varrendo, e ainda não há nenhum lugar para eu correr, não há
alívio para o que está correndo pelo meu corpo, só essa dor incrivelmente poderosa
que tem sido alimentada pelos mesmos hormônios que meu corpo continua
despejando, e que não há maneira de deter.
Levanto-me da cadeira como faz toda a arena cheia de pessoas, mas isso é tudo
que posso fazer ao vê-lo subir ao ringue da maneira que só ele sabe fazer. A
multidão é instantaneamente capturada por ele, e eu fico tonta também. Lá está
ele, a fantasia viva de uma mulher, respirando e fazendo seu arrogante e lento
girar de corpo, os cabelos castanhos desarrumados, o peito bronzeado, o sorriso
com covinhas – um sorriso matador –, tudo que faz parte do pacote de Christian
Grey. Ele é a própria perfeição, e uma nova onda de hormônios varre meu corpo
quando começo a fazer o que o resto da multidão faz e devoro seu visual, tão
descaradamente em exibição naqueles calções de cintura baixa, e assim tão surpreendentemente
sexy, que ele se torna o centro da minha atenção.
O centro da cidade. Do meu. Mundo.
Desde que parei de competir, ganhei gordura corporal e agora estou com uns 18%
de gordura saudável no corpo.
Estou com mais curvas do que costumava ter, com um pouco de sustentação extra
na minha bunda, e um bom estofo para os meus seios. Mas nunca estive mais
consciente de meu corpo e de todas as suas partes internas e externas do que ao
interagir com esse homem. Nem sei se consigo me acostumar com isso. Não posso
nem mesmo fazê-lo parar de fazer tal coisa comigo. Já deixo que me “possua” o
fato de que, sim, esse homem deixa meu corpo fora de controle.
– E agora, o famoso e aclamado Owen Wilkes, o Gafanhoto Irlandês!
Enquanto seu oponente ruivo mal-humorado toma o lugar no ringue, o olhar azul
de Christian varre a multidão até que ele me veja. Nossos olhos se encontram, e
fico instantaneamente sem fôlego. Suas covinhas começam a formar um sorriso tão
perfeito, que corre todo o caminho até me encontrar, eletrizando minhas
terminações nervosas.
Ainda estou sorrindo como uma tonta quando soa o sino do assalto, e não quero
segurar minha respiração enquanto estou assistindo, mas é isso que faço. Christian
parece quase como um rottweiler entediado, enquanto seu adversário, o Gafanhoto,
parece saltar por todo o ringue e em torno dele como um canguru bebê.
Christian o nocauteia rapidamente e, como continua ganhando, luta contra uma
fila de novos oponentes, um após o outro. Pelo que Taylor me disse, apenas os
últimos oito finalistas em cada cidade irão competir na próxima cidade
designada, e tudo vai convergir em uma grande luta no final da turnê, em Nova
York, onde apenas os dois melhores colocados vão se envolver em uma longa luta
de dezesseis assaltos, em vez de um punhado de lutas de três assaltos.
Agora Christian está lutando com um homem que mais parece um lutador de luta
livre do que um boxeador. Sua barriga é flácida e volumosa, e ele tem
aproximadamente o dobro da largura de Christian. Algo feroz e primitivo aperta meu
abdômen e estou de pé soltando um silencioso “não!” no instante em que o homem
que tinha sido chamado de O Carniceiro solta um murro nas costelas de Chris. Chris
foi atingido duramente e consigo ouvir o ar ser expulso de seus pulmões.
Minhas entranhas se agitam de medo mesmo quando ele se recupera facilmente, e
meu coração não para de bater no meu peito. Mordo meu lábio quando vejo Chris
lançar um conjunto de golpes perfeitos no abdômen do Carniceiro. Ele se move de
modo tão fluido, cada parte de seu corpo flexível e forte, que às vezes me
esqueço de que ele está lutando contra alguém, apenas por causa da
maneira como ele me hipnotiza com seus movimentos.
Adoro ver aquelas pernas poderosas, com músculos grossos, e como elas o
equilibram e o ajudam a se mover com força e agilidade. Amo cada flexão dos
seus quadris, ombros, bíceps, e a maneira como a tatuagem que circunda os braços
ressalta aqueles ombros bem formados.
– Buu! Buuu!
A multidão começa a vaiar, e isso foi depois que Chris sustentou outro soco na
parte superior do tronco. Estremeço quando o Carniceiro dá um direto na boca de
Chris. A cabeça dele balança e vejo respingos de sangue a seus pés, e me ouço
dizer “não” de novo, suavemente. Ele se endireita mais uma vez e recupera sua
posição, lambendo o sangue de um corte em parte de seu lábio. Mas não entendo
por que ele está baixando a guarda.
Parece que ele não está se protegendo, e mesmo o treinador e Sawyer estão
carrancudos e perplexos no canto do ringue, enquanto assistem à continuação da
luta, Christian soltando seus golpes sempre excelentes, mas estranhamente permitindo
que o Carniceiro tenha muito acesso à sua região torácica superior. Estou
confusa, e ansiosa para que a luta termine, e tudo que sei é que realmente
sinto dentro de mim cada soco que aquele homem terrível está acertando, como se
uma faca cortasse minhas entranhas.
Quando o Carniceiro bate mais uma vez em sua lateral e Chris cai de joelhos,
quero morrer.
– Não! – o grito é arrancado de mim.
E quando a mulher ao meu lado me ouve, ela põe as mãos em torno da boca e
grita:
– Levante-se, Chris! Levante-se! Nocauteie esse sujeito!
A respiração irregular de alívio me escapa quando ele fica de pé e limpa o
sangue de seus lábios, mas seus olhos giram levemente em minha direção, e ele
leva outro soco que o atira de volta contra as cordas.
Meus nervos estão esfarrapados de tal forma que preciso abaixar minha cabeça e
parar de assistir por apenas um minuto. Há, literalmente, uma bola de fogo em
minha garganta, e não consigo nem mesmo engolir a minha saliva. Existe alguma
coisa em assistir a Chris sendo socado que me faz sentir tão impotente quanto
no dia em que rebentei o joelho e não podia fazer nada para impedi-lo. Essa
passividade não é algo meu. Estou sendo devorada pela necessidade de ir lá em cima
e bater naquela porra de gordo, ou de simplesmente fugir daqui. Lutar ou fugir.
Mas em vez disso, apenas me sento
aqui, e isso é horrível.
De repente, o seu refrão habitual começa: “CHRIS... CHRIS... CHRIS”.
E algo acontece quando não estou olhando, porque o caos se instala na arena e
as pessoas começam a gritar:
– Isso aí, CHRIS,CHRIS,CHRIS!
A voz do locutor irrompe através do alto-falante:
– Nosso vencedor, senhoras e senhores! Arrebentaaaaador! Sim, mulherada faminta
aí fora, podem berrar à vontade pelo maior fodão que já subiu a este ringue!
Arrebentadooooooooor!
Minha cabeça se volta surpresa para o ringue, e meus olhos voam. O gorducho
está sendo removido com a ajuda dos enfermeiros, e sou atingida pelo fato de
que Christian parece ter quebrado as costelas dele.
Mas o meu cara não está mais no ringue.
E ele pode ter uma costela quebrada também.
Meu Deus, o que diabos aconteceu?
Tão depressa quanto consigo, atravesso a multidão e vou para os bastidores, a
cabeça ainda girando e o corpo ainda dolorido pela tensão. Encontro Lupe
acaloradamente discutindo com Sawyer sobre como “o filho da mãe está brincando
com fogo”. Quando eles me notam, o treinador se afasta de mim e Sawyer aponta
um dedo mostrando “o andar de cima”, e então tira do bolso das calças de brim a
chave para a suíte de Chris, jogando-a para mim. Pego a chave e vou para o hotel
que, felizmente, fica virando a esquina.
Vejo Christian sentado no banco ao pé da sua cama, o cabelo escuro tão
belamente bagunçado como
sempre, a respiração ainda um pouco irregular, e uma onda de alívio corre por
mim quando ele levanta a cabeça e seu sorriso preguiçoso, o que mostra apenas
uma covinha, aparece.
– Gostou da luta? – pergunta ele, a voz áspera com a desidratação.
Não posso dizer que não, mas realmente não posso dizer que sim. Apenas não sei
porque se trata de uma experiência tão complicada para mim. Então digo:
– Você quebrou as costelas do último cara.
Uma sobrancelha lustrosa se ergue, então ele drena o último gole de um Gatorade
e o joga vazio no chão.
– Você está preocupada com ele, ou comigo?
– Com ele. Porque ele não será capaz de ficar de pé amanhã. – Foi uma piadinha
que fiz, mas embora ele dê um grunhido, não sorri.
Estamos sozinhos.
E, subitamente, todos os poros do meu corpo tornam-se conscientes disso.
Minhas mãos começam a ficar um pouco
oscilantes, pego uma pomada e me ajoelho entre suas pernas para colocá-la na
parte cortada de seus lábios. Não sangra mais, mas está rachado bem no meio
mais carnudo de seu lábio inferior. O tempo passa enquanto pressiono meu dedo
lá, os olhos dele me observando.
– Você – sussurro. – Eu me preocupo com você.
A súbita consciência do ritmo exato de sua respiração me assombra. Estou tão
perto dele que acho que respiro o mesmo ar que ele exala e, sem nenhum aviso,
seu cheiro está dentro de mim. Ele cheira tão bem, salgado e limpo como um
oceano, e me sinto impotente para deter as reações que ele me provoca. Minha
cabeça está girando dentro do meu crânio. Eu me imagino dobrando a cabeça na
direção de seu pescoço úmido e correndo minha língua sobre todas e cada uma das
gotas de suor que vejo em sua pele.
Envergonhada de meus próprios pensamentos, fecho o tubo da pomada, mas continuo
de joelhos, examinando se começo por suas pernas, já que estou aqui.
– Eu detonei meu ombro direito, Anastasia.
Meu nome falado por aquela voz áspera agita o topo de minha mente, e a maneira
como ele o diz me afeta, mas eu disfarço com um suspiro de tédio simulado.
– Com um trator como você, eu sabia que seria esperar demais que sobrevivesse a
esta noite apenas com um lábio cortado.
– Você vai consertá-lo?
– Claro. Alguém tem que fazer isso.
Fico de pé e dou a volta, para ficar de joelhos no final de sua cama e agarrar
seus ombros. Não fico mais surpresa com a maneira como cada célula de meu corpo
reage à sensação do corpo desse homem conectado ao meu através de minhas mãos.
Só fecho os olhos e me permito apreciar por um momento a sensação de relaxá-lo,
mas a tensão que sinto é muito maior do que antes. Vou mais fundo com os dedos
em seu ombro e sussurro:
– Aquele filho da mãe horroroso bateu feio aqui. Bateu muito aqui. Dói?
– Não.
Acho que ouvi um toque de diversão em sua voz, mas não tenho certeza. Meu foco
deriva para seu músculo, empurrando-o para trás em meus dedos, e eu sei que de
fato dói. Tem que doer.
– Vou massagear com arnica, e nós vamos fazer terapia fria.
Ele fica perfeitamente imóvel enquanto me permite trabalhar um pouco com óleo
em sua pele, e quando espio seu rosto, percebo que os olhos estão bem fechados.
– Dói? – murmuro.
– Não.
– Você sempre diz que não, mas eu posso dizer neste momento que dói.
– Há outras partes de mim que estão doendo mais.
– Que porra é essa?
A porta da suíte bate ao se fechar, e Taylor entra furiosamente no quarto
principal, do jeito mais irritado que eu já tinha visto nesse homem gentil.
Seus traços de menino do coral da igreja parecem mais agudos e não tão
angelicais quanto antes, e hoje até mesmo os cachos no cabelo estão mais
pronunciados.
– Que. Porra. É. Essa? – ele repete espaçando as palavras.
O corpo de Christian torna-se uma parede de tijolos sob o meu toque.
– O treinador está uma fera – acrescenta Sawyer, quando entra no quarto também,
e até mesmo o cordial Sawyer está carrancudo agora. – O que todos nós queremos
saber é por que diabos você está deixando que eles chutem sua bunda?
Uma estranha e tumultuosa vibração se espalha pelo quarto, e minhas mãos param
imediatamente de se mover na parte de trás de seus ombros.
– Sim ou não? Você deixou o cara fazer isso de propósito? – Sawyer atira-lhe um
olhar sinistro. Christian não responde.
Mas seu torso está totalmente ereto agora, e cada músculo parece em alerta.
– Você precisa transar? – exige saber Taylor, sinalizando para ele. – É isso,
precisa transar?
Minhas entranhas apertam e sei que de fato não pretendo ficar aqui ouvindo os
caras se organizando para arrumar um arranjo sexual para Christian. Então
murmuro algo, principalmente para mim mesma, já que de qualquer maneira ninguém
está prestando atenção, algo sobre ir até a cozinha ajudar Gail, e enfim saio
do quarto.
Mas, já no corredor, ouço Taylor de novo:
– Cara, você não pode deixar os caras fazerem isso com você só pra ter as mãos
dela passando por seu corpo. Olha, a gente pode arrumar umas meninas. Seja o
que for que esteja fazendo, não pode ficar com esses joguinhos como uma pessoa
normal. Você só está se torturando, Chris, e isso é uma coisa perigosa que você
está fazendo com ela.
Começo a andar devagar, quase parando, e acho que meus pulmões se congelaram de
tanto que segurei a respiração. Esses caras por acaso estão falando de mim?
– Você apostou toda a sua grana em você
mesmo este ano, lembra disso? – acrescenta Taylor. – Agora, tem que derrotar
aquele Scorpion na final, não importa o que aconteça. E isso a inclui, cara.
O timbre de Christian é mais baixo do que o dos outros, mas de alguma forma,
aquele grunhido suave é
infinitamente mais ameaçador.
– O Scorpion é um homem morto, então, não encha o meu saco.
– Você nos paga pra evitar essa merda, Chris – diz Taylor, mas isso só faz Christian
baixar a voz ainda mais.
– Eu sei disso. E tenho tudo sob controle.
O silêncio que se segue a esse sussurro mortífero me induz a me movimentar, e
logo estou na cozinha, para encontrar Gail tirando um pequeno peru orgânico do
forno. O cheiro de alecrim e limão dá água na boca, mas não ajuda em nada meu
coração palpitante.
– Por que os caras estão gritando? – pergunta Gail enquanto organiza o prato,
olhando docemente para o peru quando ele se recusa a parecer mais bonito no
prato que ela escolheu.
– Chris foi praticamente atropelado hoje à noite – respondo. Por que foi isso
que aconteceu, não foi?
Gail balança a cabeça e murmura em tom de desaprovação para si mesma.
– Eu juro que esse homem tem o botão de autodestruição mais vermelho que já
vi...
Ela se afasta quando a porta se abre atrás de mim e uma mão enorme grampeia meu
cotovelo e me faz girar.
– Quer correr comigo?
Os olhos azuis e gelados de Christian brilham intensamente em mim, e posso
sentir, até onde eu estou, de pé, a frustração que vem dele. Ela circula em
torno dele como um redemoinho escuro e, subitamente, ele parece no limite e mais
que um pouco ameaçador.
– Você precisa comer, Chris – avisa Gail no canto.
Sorrindo, ele pega um galão de cinco litros de leite orgânico em cima do balcão
e começa a beber até que quase tudo esteja em seu estômago, então bate o
recipiente na mesa e limpa os lábios com as costas de seu braço, dizendo:
– Obrigado pelo jantar. – E então, ergue uma sobrancelha e me espera responder.
– Anastasia?
Um arrepio me percorre.
Não gosto que o meu nome em seus lábios atinja todas as notas certas.
Como um filme de amor.
Franzindo o cenho com a minha reação, olho para o peito dele pensando que a
melhor coisa seria colocá-lo em uma banheira de gelo. Mas, de alguma forma,
concluo que testar ainda mais os limites dele, num dia como hoje, não seria uma
boa ideia.
– Como você se está se sentindo? – pergunto, estudando-o.
– Sinto vontade de correr. – Os olhos dele me perscrutam atentamente. – Você
também?
O pedido me faz hesitar. É que ninguém, exceto os corredores, realmente sabe
que correr com alguém pode ser uma coisa muito boa.
Muito. Muito. Boa.
Especialmente quando você está acostumado a se exercitar sozinho. Como Christian.
E, além de Kate, eu nunca corri com outra pessoa. Meu tempo de corrida é meu
tempo. Tempo para pensar. Tempo para me centrar. Mas concordo. Acho que ele
realmente precisa disso, e eu vinha precisando disso há horas.
– Vou calçar os tênis e colocar a joelheira.
Dez minutos depois, estamos descendo a pista mais próxima ao nosso hotel, que é
uma trilha de terra sinuosa pontilhada com um par de árvores e, felizmente, bem
iluminada à noite. Christian usa seu capuz e moletom, e ele está socando o ar
como fazem os boxeadores, já eu estou apenas aproveitando a brisa fresca na
minha pele enquanto tento acompanhá-lo. Vesti shorts de corrida e um top
esportivo de mangas curtas com meu par favorito de Asics; já Christian usa um
par de Reebok de corrida que é diferente dos tênis de cano alto que ele usa
para boxear.
– Então, o que aconteceu com Taylor e Sawyer?
– À procura de prostitutas.
– Pra você?
Ele soca o ar com um punho, depois com o outro.
– Pode ser. Quem se importa?
Estou realmente desapontada por ter perdido a resistência, porque, depois de
meia hora no ritmo que estabelecemos, estou forçando meus pulmões e suo muito,
apesar da fria brisa noturna. Faço uma parada, coloco as mãos nos joelhos e aceno
para que ele continue:
– Vá em frente, preciso recuperar o fôlego e estou com câimbra.
Ele para de correr junto comigo e fica
saltando nas panturrilhas para o corpo não esfriar, então retira um pacote de
gel eletrolítico do bolso da camiseta. Estende-o para mim, e fica tão perto que
sinto o cheiro dele. De sabonete, suor e Christian Grey. Minha cabeça nada um
pouco. Talvez a câimbra que pensei estar sentindo em meus ovários não fosse isso,
mas apenas o meu interior quase em convulsão cada vez que seus ombros se
encostam acidentalmente contra os meus.
Ele se ergue de novo e continua a socar o ar enquanto me vê abrir o pacote e
deslizar o conteúdo para a minha língua.
O sangue bombeia com violência em minhas veias e há algo incrivelmente íntimo
na maneira como seus olhos azuis me veem lamber um pacote que havia pertencido
a ele.
Ele para de saltar. Respirando com dificuldade.
– Sobrou alguma coisa? – pergunta.
Imediatamente retiro da minha boca e entrego a ele, e quando Chris envolve seus
lábios em torno do pacote da mesma forma que eu fiz, meus mamilos endurecem
como diamantes, e não consigo me lembrar de mais nada, exceto que ele está
lambendo no mesmo lugar que eu. Tremo com a compulsão imprudente de correr a
minha língua ao longo do corte no lábio, tirar aquele pacote da boca e
pressionar meus lábios ali, assim a única coisa que ele estaria lambendo seria eu.
– E eles tinham razão? Aquilo que disse o Taylor? Que você estava fazendo de
propósito?
Quando ele não responde, lembro-me daquele “botão” que Gail mencionou, e minhas
preocupações dobram.
– Chris, às vezes você quebra alguma coisa e nunca mais consegue isso de volta.
Nunca mais... – enfatizo isso e olho para a rua distante, para os carros
passando, e fico com medo de ele perceber a emoção em minha voz. Ele me coloca
no limite, e tenho que conseguir de volta meu autocontrole.
– Sinto muito sobre seu joelho – diz Chris, suavemente, então atira o pacote
vazio num cesto de lixo próximo e solta alguns jabs com a direita e com a
esquerda, e começamos a correr de novo.
– Não se trata de meu joelho. Trata-se de não cuidar de seu corpo como deveria.
Nunca deixe ninguém te machucar, nunca permita isso, Chris.
Ele balança a cabeça, as sobrancelhas bem em cima dos olhos quando rouba um
olhar em minha direção.
– Não faço isso, Anastasia. Só deixei que se aproximassem o suficiente pra
poder foder todos eles. Pequenos sacrifícios em busca da vitória. Dou-lhes
confiança ao ver que uns socos entram, então isso vai pra cabeça deles, acham
que eu sou moleza – que não sou como ouviram dizer que sou –, e quando ficam
animados de como é fácil espancar Christian Grey, eu entro e acabo com eles.
– Tudo bem, prefiro isso.
Corremos por mais uma meia hora, e aos oito quilômetros já estou ofegando como
uma cadela velha que deu à luz doze filhotes, ou algo parecido. Meu orgulho
está doendo tanto quanto meu joelho ruim.
– Vou parar. Vou ficar muito dolorida amanhã, então prefiro ir dormir agora do
que você ter que me carregar de volta ao hotel mais tarde.
– Eu não me importaria – diz ele com uma deliciosa risadinha, então estala o
pescoço pra esquerda, depois pra direita e corre de volta comigo.
No elevador do hotel, muitas outras pessoas entram conosco, e Christian puxa o
capuz por sobre seu cabelo e abaixa a cabeça, seu perfil sombreado pelo tecido.
Percebo que ele faz isso para evitar ser reconhecido, e isso me faz sorrir,
divertida.
Um jovem casal grita do saguão para nós “Segure o elevador!”, e eu pressiono o
botão de abrir a porta até que eles entrem. Meu coração salta quando Christian
aperta meu quadril e me puxa para perto dele, pois os dois estão a bordo. E então
estou morrendo, porque ele abaixa a cabeça, mantendo-a inclinada em direção a
mim, e posso ouvir sua inalação profunda. Oh, Deus, ele está me cheirando. Meus
músculos do sexo se apertam. A necessidade de me virar e enterrar meu nariz em
seu pescoço e lamber a umidade em sua pele arde dentro de mim.
– Você está se sentindo melhor? – pergunto, virando um pouco para ele.
– Sim. – Ele abaixa a cabeça mais para perto, e minha testa é banhada pelo seu
hálito quente. – E você?
Seus feromônios são como uma droga para mim, e minha garganta parece tão
espessa que eu só aceno para ele.
Suas mãos apertam meu quadril, e meu útero se aperta tanto por causa disso que
fica dolorido e me dá vontade de chorar baixinho.
Vou para o chuveiro logo que entro no quarto, e deixo a água tão fria quanto
posso suportar, os dentes batendo, mas o resto do corpo ainda cheio de nós por
causa dele. Ele. Ele.
Quando entro na cama, Gail murmura “Olá”, e em seguida continua a leitura de um
livro de receitas, enquanto digo “Boa noite” e fecho os olhos, tentando fingir
que não estou assando por dentro.
Mas a coisa incomoda tanto que fico me contorcendo sob os lençóis, assombrada
pelo que ouvi Taylor dizer a Christian. Assombrada por aquela boca carnuda e
sexy, com um corte recente no lábio inferior, envolvendo o pacote de eletrólitos
enquanto a língua sugava o último gel que tinha. Penso em como poderia ser se
eu fosse aquele pacote, e sentisse
os lábios de Chris sobre minha língua, chupando suavemente, e o pensamento faz
gerar uma nova onda de umidade entre minhas coxas.
Estou desesperada para dar a mim mesma algum alívio daquela contínua fúria
hormonal de ser exposta a ele. Como a radiação, deve existir alguma coisa que
eu possa usar para me proteger, mas simplesmente não consigo descobrir o que é.
O rosto dele, o cheiro dele, isso me deixa louca. Ele é meu cliente, mas também
é... como um amigo. E eu só preciso tocá-lo. Sei que não posso beijar de fato
aquela boca sexy, mas posso, pelo menos, massageá-lo.
Ele deve estar quente por causa de nossa corrida, e cansado depois de sua luta,
e eu anseio o contato de sua pele como um viciado em drogas. Antes de entender
o que estou fazendo, entro num terninho de tecido aveludado, vou para a suíte
dele e bato na porta.
Não sei bem o que vou dizer, não sei de nada, exceto que provavelmente não irei
pegar no sono até que o veja, e até que ofereça gelo para seus machucados no
tórax, ou ao menos até que esfregue um anti-inflamatório, ou... Não sei.
Por que ele me pediu para correr com ele?
Por que Taylor acha que ele estava ficando machucado propositalmente apenas
para que eu o tocasse?
Será que ele quer tanto assim sentir o toque de minhas mãos?
Sawyer abre a porta e, acima de seus ombros, vejo uma mulher numa lingerie
transparente dançando sensualmente no meio da mesa de centro da sala de estar,
e outra voz feminina ao fundo falando “... o passarinho me contou que você queria
brincar com a gente, Chris”.
– Sim? – pergunta Sawyer, e eu fico lá, só olhando como uma idiota, meu
estômago enrolado porque, lógico, aquelas eram as putas que... Afundo minha
cabeça e procuro desesperadamente algo para dizer.
– Será que eu deixei meu celu... Que merda, estava aqui... – Olho para o
celular na minha mão e reviro os olhos.
Como eu sou tão estúpida.
E sou mesmo.
Merda, eu realmente sou uma idiota.
– Deixa pra lá. Boa noite, Sawyer.
Ouço a voz profunda de Christian.
– Quem é?
Corro para o meu quarto e fecho a porta, me sentindo dormente por dentro. Desta
vez, quando entro na cama, tenho certeza de que cada centímetro de excitação
fugiu de meu sistema, mas ainda não consigo dormir. Porque agora a mulher que Christian,
com aquela linda boca carnuda, está beijando com tanta avidez na minha mente, a
mulher que começa a lamber esse corte no lábio em que eu tenho que colocar
pomada, infelizmente, não sou eu.
***
Chris está treinando hoje da forma como
o treinador acha que ele deveria ter lutado ontem.
Já nocauteou dois de seus sparrings e o treinador está irritado mais uma vez.
– Esses são sparrings, Grey. Se você tivesse parado de nocautear os caras e se
divertisse e trabalhasse os seus movimentos, você ainda teria alguém com quem
treinar hoje. Mas, agora, não há mais ninguém.
– Então pare de me arrumar essas bichonas, treinador – cospe Chris. – Mande o Sawyer
aqui pra cima.
– Nem mesmo se ele fosse suicida. Eu preciso dele amanhã, e consciente.
– Ei, eu sei como ser sparring – digo a Sawyer, de onde assistíamos, a um canto
do lado de fora do ringue.
A cabeça escura de Sawyer se vira para mim, e de repente ele parece
impressionado.
– Você acaba de se oferecer pra subir lá com esse cara?
– Claro que sim. Eu posso mostrar a ele alguns movimentos que ele nunca viu –
acabo de me gabar, mas
francamente, só quero a oportunidade de chutar a bunda de Christian por ser
esse idiota mulherengo que me faz fantasiar dia e noite. E por lamber o pacote
de eletrólitos depois que eu lambi. Que xaveco mais babaca.
– Tudo bem, Chris, eu tenho uma coisa pra você – chama Sawyer, batendo palmas
para chamar sua atenção. – E tenho certeza de que ele não vai nocautear este
sparring, treinador – chama Lupe no outro canto, e sinaliza pra mim, rindo.
Christian me vê, e joga o protetor de cabeça no chão enquanto subo ao ringue,
em meu agasalho preto apertado.
Seus olhos me examinam, como sempre faz. Ele é tão homem, e não deixa de me
checar cada vez que eu ando na direção dele. Mas quando me aproximo, seu brilho
nos olhos é de diversão, e lentamente o sorriso aparece, o que só aumenta minha
irritação.
Ele tem estado mal-humorado hoje, é o que posso dizer... E seus sparrings
nocauteados também... Mas meu próprio mau humor deve bater com o dele. Nem
mesmo o café melhorou as coisas, nesta manhã, e sei que isso aqui vai me fazer
bem. Mesmo que eu perca, só quero mesmo brigar com alguém.
– Não fique rindo assim. Posso derrubá-lo com os pés – aviso.
– Isso aqui não é kick boxing. Ou você vai morder também?
Levanto minha perna no ar precisamente
num movimento de kick boxing, que ele desvia muito levemente, e ergue uma
sobrancelha.
Tento mais um, que ele desvia, e então percebo que ele está de pé no centro do
ringue, enquanto eu estou basicamente circulando-o. Sei que não posso ter uma
chance se me basear na força, mas meu plano é deixá-lo tonto e, em seguida,
tentar derrubar pra ele baixar um pouco a bola. Sawyer chama aquilo que estou
fazendo de “esquivas”. O que é apenas ficar girando e girando em torno de seu
oponente até que ele erre. Então giro um pouco e me esquivo, e ele está claramente
entretido comigo, quando tento um soco de teste. Ele o pega facilmente com seu
punho e então abaixa meu braço.
– Não – ele repreende suavemente, e enrola a mão ao redor da minha para mostrar
como fechar os dedos de forma correta. – Quando você dá um soco, precisa
alinhar seus dois ossos do braço, rádio e ulna, par a par com seu pulso. O pulso
não pode estar frouxo, por isso mantenha-o perfeitamente reto. Agora comece com
o braço dobrado em seu rosto, aperte os dedos, e quando der o soco, gire o
braço de forma que o rádio, a ulna e o pulso pareçam uma única peça de osso
quando bater. Experimente.
Eu tento, e ele aprova.
– Agora, use o outro braço pra se proteger.
Mantenho um braço dobrado para cobrir o meu rosto, e depois ataco novamente, e
novamente, percebendo que ele está apenas se cobrindo, mas não contra-atacando.
Já a adrenalina corre inebriante no meu corpo, e eu não sei se é a luta
simulada, ou aqueles olhos azuis tão fixos em mim, mas me sinto, de repente,
eletricamente carregada.
– Mostre-me um movimento que eu não sei – digo sem fôlego, gostando disso mais
do que eu esperava.
Ele estende a mão para os meus braços e dobra-os para proteger meu rosto com
meus punhos.
– Tudo bem, vamos fazer um movimento um-dois. Sempre cubra o rosto com as mãos,
e seu tronco com os braços, mesmo quando está atacando. Solte primeiro a
esquerda – ele puxa meu braço em direção ao seu maxilar –, então você muda o
equilíbrio em suas pernas pra que possa seguir com um soco potente com a mão
direita. Você precisa de um bom trabalho de pés aqui. Obtenha a força do soco
aqui embaixo – ele empurra um dedo no meu abdômen, arrastando a mão depois para
o braço e para o meu punho – e envie essa força toda para os dedos.
Ele faz um golpe duplo simulado que é fluido e perfeito e que faz com que
pequenas gotas de suor apareçam ao longo do meu decote, e então eu tento. Bato
à esquerda, me abaixo, mudando de posição, e bato mais forte com a direita.
Seus olhos faíscam, deliciados.
– Tente de novo. Bata-me em um ponto diferente no seu segundo soco. – Ele fica
na posição, com as mãos abertas para pegar meus golpes.
Seguindo as ordens, uso o primeiro braço para desferir um soco rápido para a
mão esquerda, e ele facilmente pega meu golpe, então solto um soco do outro
lado com a minha direita. Meus golpes são gostosamente exatos, mas acho que preciso
colocar mais força.
– Soco duplo no seu lado esquerdo – fala Chris, e move sua mão para pegar meus
golpes.
– À sua direita – ele diz, e no meu primeiro soco, acerto a mão aberta com o
punho, puuuf! Então, decido surpreendê-lo e faço meu soco mais forte chegar ao
seu abdômen, que se contrai automaticamente quando bato e envia uma dor surpreendente
pelos meus dedos. Mas até mesmo Chris está surpreso de eu ter conseguido passar
esse.
– Sou boa demais – ameaço quando me afasto, saltando sobre minhas panturrilhas
como ele faz e, brincando, ponho minha língua para fora.
Ele nem percebe isso, porque está olhando para os saltos dos meus seios.
– Boa mesmo – diz ele, voltando na posição. Seus olhos escureceram de uma
maneira que faz com que minhas entranhas cozinhem com o calor, e decido que
este momento em que ele está distraído com meus filhinhos é melhor do que
qualquer um.
Começo a gingar como aprendi na autodefesa. As pernas são a parte mais forte do
corpo de uma mulher e, certamente, no de uma ex-velocista. Meu objetivo é
atingir o tendão de Aquiles dele com o peito do meu pé, e derrubar tanto seu
corpo quanto seu ego no chão.
Mas ele se move no instante em que dou o golpe, e acerto seu calçado. A dor
sobe por meu tornozelo. Ele
rapidamente me pega pelo braço e me endireita, as sobrancelhas se erguendo
franzidas.
– O que foi isso?
Gemo.
– Você deveria cair.
Ele só olha para mim, com o rosto sem expressão por um momento.
– Você está brincando comigo, né?
– Eu já derrubei homens muito mais pesados do que você!
– Uma porra de uma árvore cai mais fácil do que Chris, Anastasia – grita Sawyer.
– Bem, isso eu já vi – resmungo, e
grito para ele: – Obrigada pelo aviso, Sawyer.
Xingando baixinho, Chris segura meu braço e me leva, saltando, até o canto,
onde cai em uma cadeira e, como só há uma, me puxa para cima dele, para que
possa ver o meu tornozelo.
– Você fodeu seu tornozelo, não foi? – pergunta, e é a primeira vez que eu
realmente o ouço parecer tão... irritado comigo.
– Parece apenas que mandei de um jeito errado todo o meu peso ao meu tornozelo
– admito a contragosto.
– Por que você me bateu? Está com raiva de mim?
Faço uma careta.
– E por que estaria?
Os olhos dele me observam de forma intrusiva, e ele parece assustadoramente
solene e definitivamente irritado.
– Me diga você.
Abaixando a cabeça, me recuso a vomitar tudo que sinto para outra pessoa que
não seja Kate.
– Ei, dá pra conseguir um pouco de água aqui? – ele grita, com uma nota aguda
de frustração em suas palavras. Sawyer traz um Gatorade e uma água sem gás e
coloca as duas garrafas no chão, aos meus pés.
– Estamos finalizando – ele nos diz, e então, parecendo preocupado, me
pergunta: – Você está bem, Anastasia?
– Ótima. E me chame amanhã, por favor. Não vejo a hora de voltar ao ringue com
este cara.
Sawyer dá uma risada, mas Christian apenas o olha de modo rápido.
Seu peito está encharcado de suor e a cabeça escura está abaixada ao
inspecionar meu tornozelo, os polegares pressionando ao redor do osso.
– Isso dói, Anastasia?
Acho que ele está preocupado. A gentileza repentina com que fala comigo faz
minha garganta doer, e não sei por quê.
Acho que é como quando você cai e não se machuca, mas chora porque se sente
humilhado. Mas eu já caí de um jeito muito pior na frente do mundo, e desejei
não ter chorado naquela época, tão ferozmente como desejo não desabar na frente
do homem mais forte do mundo.
Franzindo a testa em vez disso, me abaixo para tentar inspecionar meu
tornozelo, mas ele não move sua mão e, de repente, vários de nossos dedos
cercam meu tornozelo, e tudo que posso sentir são os seus polegares na minha
pele.
– Você pesa uma tonelada – reclamo, como se fosse culpa dele o fato de eu ser
uma idiota. – Se você pesasse um pouco menos, eu teria derrubado você. Eu até
derrubei meu instrutor.
Ele olha para cima, franzindo o cenho.
– O que posso dizer?
– Que sente muito? Pra consolar o meu orgulho ferido?
Ele balança a cabeça, claramente ainda irritado, e eu sorrio, com ironia, me
abaixando para pegar o Gatorade e desapertando a tampa.
Os olhos dele caem sobre meus lábios enquanto tomo um gole, e posso sentir, de
repente, algo inconfundível em seu colo, logo abaixo de meu traseiro. O líquido
gelado correndo na minha garganta me faz perceber que todo o resto do meu corpo
está febrilmente quente, e ficando ainda mais quente.
– Posso pegar um pouco? – Sua voz está estranhamente rouca ao sinalizar para a
minha bebida.
Quando concordo, ele pega a garrafa em uma mão e a inclina à boca, e meus
hormônios descarregam tudo de uma vez com a visão de seus lábios pressionando
contra o aro da garrafa.
Bem no local onde tinham estado os meus.
Sua garganta se move ao engolir, então ele abaixa a garrafa, os lábios agora
úmidos e, quando entrega o Gatorade de volta para mim, nossos dedos se
encostam. Um relâmpago corre para cima em minhas veias. E fico hipnotizada pela
forma como as pupilas dele escureceram, e pela maneira como fica olhando em
meus olhos, sem diversão na sua expressão. Quando automaticamente tento
disfarçar meu nervosismo tomando outro gole, ele me olha com mais atenção, os
lábios sem sorrir. Lindamente rosados. O corte no seu lábio ainda sarando.
Aquele que desejo lamber. Uma fita de profundo desejo se desenrola dentro de
mim. Isso dói. Estou sentada em seu colo, e percebo um braço poderoso em torno
da minha cintura, e nunca estive tão perto. Perto o suficiente para tocá-lo,
beijá-lo, enrolar todo o meu corpo ao redor do dele. De repente, sinto que
estou morrendo e voando. Simplesmente não posso fingir mais que isso não é
importante. Desejo esse homem. Eu o desejo tanto que nem consigo mais pensar
direito. Esse desejo é importante. Muito importante.
Nunca me senti assim.
Sei que isso é loucura, que nunca vai acontecer, que nunca poderá acontecer,
mas não posso evitar. Ele é como as Olimpíadas para mim, algo que nunca vou
ter, mas que desejo com todo o meu ser. E detesto por completo a ideia de que seus
braços estiveram envolvendo uma, talvez duas mulheres, há menos de 24 horas,
quando eu quis que estivesse comigo.
Novamente agitada com essa lembrança,
tento ficar de pé, com cuidado. Ele pega meu Gatorade e o coloca ao lado, depois
pega duas toalhas de uma cesta e envolve uma delas no pescoço. Em seguida,
enrola a outra no meu pescoço, me segurando pela cintura o tempo todo.
– Vou ajudar você, assim poderá pôr gelo nisso aí.
Ele me desce do ringue como se eu não pesasse mais do que uma nuvem, e então
tenho que me apoiar nele, meu braço em volta de sua cintura estreita à medida
que caminhamos para fora.
– Está tudo bem – eu continuo dizendo.
– Pare de discutir – diz ele.
No elevador, ele me mantém perto dele e sua cabeça se abaixa para mim, fazendo
com que eu possa sentir sua respiração perto do meu rosto. Estou dolorosamente
consciente do quanto ele é grande, em relação a mim, e dos seus cinco dedos
abertos em volta da minha cintura, e do exato momento em que ele muda o nariz
de posição e o deixa na parte de trás da minha orelha. Faz cócegas quando ele
expira, e ele está tão perto que seus lábios iriam esfregar a parte de trás de
minha orelha se falasse alguma coisa. Repentinamente ouço sua profunda
inspiração, e os meus órgãos sexuais pulsam com tanta força que eu viraria e
enterraria meu nariz em sua pele e sugaria todo o ar que pudesse em meus pulmões.
Mas é claro que não faço isso.
Ele me leva ao meu quarto, e meu corpo está em um estado tal que meu cérebro
não pode sequer encontrar um tema de conversa para nos livrar do silêncio tenso
que nos acompanha.
– Ei, cara, pronto pra luta? – um membro uniformizado da equipe do hotel, que
parece ser um fã, pergunta do outro lado do corredor.
Christian ergue o polegar para cima e dá um sorriso de covinhas antes de se
virar para mim, pressionando o queixo em meus cabelos, bem na parte de trás da
minha orelha.
– A chave – diz ele, em um sussurro gutural que provoca arrepios, apanhando-a e
me levando para dentro.
Gail não está aqui, muito provavelmente ela está fazendo o jantar superluxo
dele agora. Ele me coloca na beira da segunda cama de casal, que deve ter
concluído ser a minha, porque Gail tem uma foto de seus dois filhos virada para
a primeira cama, e então ele pega o balde de gelo.
– Vou pegar gelo.
– Está tudo bem, Chris, farei isso mais tarde...
A porta se fecha antes que eu possa terminar, então solto a respiração e me
inclino para apalpar meu tornozelo e avaliar os danos que causei.
Ele deixa a porta destravada para que não tenha que bater, e fico rija quando
ele retorna e a fecha. Abre a torneira do banheiro e então está de volta,
parecendo enorme e imponente dentro do meu quarto de hotel quando deposita o
balde no tapete.
Ajoelha-se aos meus pés, e a visão de seu corpo forte e de sua cabeça de
cabelos castanhos inclinando-se para cuidar de mim me provoca um fluxo de
desejo tão forte que olho para o balde de gelo e quero mergulhar a cabeça lá
dentro.
Chris tira fora meu tênis e a meia e então segura minha perna suavemente pela panturrilha,
enquanto enfia meu pé no gelo.
– Quando estiver melhor, vou mostrar como me derrubar – ele fala baixinho.
Quando não consigo responder e me sinto completamente desfeita pelo seu toque,
ele olha para cima e seus olhos estão suaves e íntimos. – Muito frio?
Apesar do resto de meu corpo estar qualquer coisa, menos frio, meus dedos
começam a esfriar à medida que a água gelada os recobre.
– S-sim.
Chris afunda mais o pé, e todo meu corpo enrijece por causa da água gelada, e
ele faz uma pausa no meio do caminho para baixo.
– Mais água?
Balanço a cabeça e forço o pé a descer o resto do caminho, pensando: Sem
sacrifícios, não há ganhos. Meus pulmões param subitamente conforme meu corpo
absorve o frio.
– Oh, merda.
Chris percebe a minha careta e puxa meu pé para fora, então me esfrega,
achatando os meus pés gelados contra o seu estômago para me aquecer. Seu
abdômen se aperta debaixo dos meus pés, e seus olhos se prendem nos meus de uma
forma tão intensa que me vejo afogar.
Surtos de tensão me atravessam. Sua mão enorme e calejada e quente está curvada
ao redor do peito do meu pé, mantendo-o no estômago tão firmemente que parece
que ele queria que ficasse mesmo lá. Queria que minhas mãos fossem meus pés,
sentindo a barriga de tanquinho sob meus dedos. Cada dobra se pressiona
perfeitamente contra o arco do meu pé e meus dedos, a dormência desaparecendo
por completo.
– Não sabia que você era um podólogo, Chris – digo, e não consigo entender por
que pareço soar tão sem fôlego.
– É um fetiche meu.
Ele me dá um sorriso preguiçoso que me
diz claramente que é tudo besteira, então enfia a mão no balde e pega um único
cubo de gelo. Coloca-o de leve sobre meu tornozelo e desliza-o sobre a carne
tenra, observando com cuidado o que faz. Minha reação é rápida e violenta, a
consciência completa e total dele tomando todo o meu corpo.
Meu coração de repente ruge na minha cabeça. Deus, este homem é mais tátil do
que eu. E como se para confirmar meus pensamentos, a mão que segurava meu pé no
estômago muda um pouco, e ele esfrega o polegar ao longo do arco do meu pé,
enquanto o cubo de gelo continua sendo esfregado na minha pele. Um formigueiro
começa a se agitar no centro do meu estômago, e tenho medo de que em questão de
minutos vá se apoderar de todo o meu corpo.
Minha voz treme, como todo o resto.
– Você faz as mãos também?
Ele olha para mim de novo, e meu coração dispara pelo efeito que os olhos azuis
me provocam.
– Deixe-me cuidar de seu pé primeiro, depois eu cuido do resto de você.
Meu estômago aperta quando ele termina a frase com outro sorriso, este bastante
lento. Todos os músculos de meu sexo começam a ondular enquanto o cubo de gelo
continua a atiçar o fogo que está crescendo suavemente em minhas entranhas.
Estou hipnotizada enquanto ele observa o gelo sobre a minha pele branca e
cremosa, o silêncio carregado de eletricidade. Impotente, arrasto os pés um
pouco mais para seu estômago, sentindo o relevo de seu abdômen debaixo de mim.
Ele olha para cima, e a intensidade penetrante em seus olhos me suga até que me
vejo sem fôlego e me afogando.
– Sente-se melhor? – murmura Chris, erguendo as sobrancelhas escuras, e não
consigo acreditar como a voz dele me afeta, como o seu toque me afeta, seu
cheiro, como outro ser humano pode ter esse poder sobre mim. Não posso permitir.
Eu.
Não posso.
Permitir.
Lembro que, quando você deseja um homem, é você quem está no controle do que
vai dar a ele. No controle sobre o que vai deixá-lo tomar. Mas não consigo
bloquear as imagens de mim e dele juntos. De me ver arrancando as roupas dele e
de vê-lo me esmagando contra o corpo dele. Imagens de seus lábios nos meus, de
nós dois caindo de forma imprudente na cama juntos, dele pulsando através de
mim. Ele me faz sentir com dezoito anos. Virginal e devassa. Só pensando em rapazes...
Só que ele me faz pensar em apenas um. E é muito masculino. Muito homem. Mas um
pouco brincalhão, como um menino.
Um menino grande e mau, que se divertiu com suas putinhas em sua mesa de café
ontem à noite...
Essa súbita e brutal lembrança me esfria como um mergulho nas águas geladas do
Alasca.
– Está perfeito agora, obrigada – digo, com a voz gelada como o gelo derretido
ao passo que tento livrar meu pé de seu aperto.
Estou quase livrando o pé quando a porta se abre e Gail entra:
– Aí está você. Devo alimentá-lo agora para que você possa se recarregar pra
amanhã!
Olhando para mim como se estivesse confuso com a minha mudança, Christian
franze a testa um pouco quando joga o cubo de gelo no balde e se levanta,
colocando meu pé de volta no tapete.
– Desculpe-me por seu tornozelo – diz enquanto se endireita, a expressão
confusa e quase vulnerável. – Não se preocupe se não conseguir ir até a luta.
– Não. Não foi culpa sua. Eu vou ficar bem – respondo depressa.
– Vou pedir ao Taylor que lhe arranje uma muleta.
– Eu vou ficar bem. Deixe as árvores em paz.
Ele para na entrada, em seguida olha para mim na beira da cama, com o rosto
ilegível.
– Boa sorte, Chris – digo.
Ele me olha, depois para Gail, então passa a mão pelo cabelo e vai embora,
parecendo de alguma forma... agitado.
Gail me encara com perplexidade completa.
– Cheguei na hora errada?
–– Não – nego com a cabeça. – Você veio na hora exata, antes que eu bancasse a
idiota completa.
Não que a tentativa de derrubar um homem como ele tivesse sido um movimento
muito inteligente, para começo de conversa.
com certeza ela ainda esta meio que pegando fogo
ResponderExcluirEita Ana ficou com raiva do Christian e tentou extravasar nele acabou machucando o tornozelo
ResponderExcluirAna é doida de pensar que derrubaria o grandalhão...rsrsrs
ResponderExcluirSó para sentirem o toque um do outro ,eles fazerm essas loucuras 🤩😍❤️💐
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